Simone Biles: "Sistema permitiu e perpetrou abusos"
Ginasta apontou o dedo à federação norte-americana. Abusos do médico da seleção de ginástica duraram cerca de 20 anos.
Simone Biles culpou esta quarta-feira a federação de ginástica dos Estados Unidos e "todo o sistema" por permitir que Larry Nassar, médico da equipa nacional durante 20 anos, abusasse sexualmente dela e de centenas de outras ginastas.
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A principal ginasta norte-americana, perante o Comité Judicial do Senado dos Estados Unidos, foi clara em alargar as culpas à USA Gymnastics, ao Comité Olímpico e ao Paralímpico do país, que "sabiam que estava a sofrer abusos por parte do médico da equipa".
A campeã olímpica do Rio 2016, que desistiu de várias finais nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, em nome da saúde mental, também acusou o FBI, departamento federal de investigação dos Estados Unidos, de ter "virado as costas" às ginastas, ao responder de forma desadequada e lenta às primeiras acusações contra Nassar, o que terá permitido ao antigo médico prosseguir os abusos durante meses.
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Biles diz que "um sistema inteiro permitiu e perpetrou" os abusos contra ela e centenas de jovens, que pela sua idade nem sequer sabiam que estavam a ser abusadas por Nassar.
"Não quero que nenhum outro jovem desportista olímpico ou nenhum outro indivíduo sofra o horror que eu e centenas de outras suportaram e continuam a suportar", declarou Biles, emocionada a ponto de começar a chorar, perante dezenas de legisladores, que a observaram em silêncio.
No início do testemunho, Biles disse que não imaginava um local em que estivesse "mais incomodada" que na sala do Comité do Senado. Junto a ela, sentaram-se outras três ginastas olímpicas, que igualmente acusam Nassar: McKayla Maroney, Maggie Nichols e Aly Raisman.
Um relatório interno do Departamento de Justiça relevou, em julho, erros graves no seio do FBI que levaram a que a investigação ficasse parada mais de oito meses. Quando esse documento de 119 páginas foi tornado público, um grupo de senadores avançou com uma audiência para investigar a resposta do FBI e para corrigir erros institucionais.
Nassar usou a sua posição como médico para abusar de, pelo menos, 330 jovens, incluindo menores e atletas olímpicas. Cumpre uma pena de 40 a 175 anos pelo cúmulo desses crimes e outra de 60 anos por pornografia infantil, ou seja, uma pena de prisão perpétua de facto.
A condenação foi proferida entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, coincidindo com o início do movimento #MeToo nos Estados Unidos.