Um balanço a vermelho da equipa que sofreu a maior goleada
A equipa que sofreu a maior goleada dos primeiros 48 jogos deste Mundial (4-0, só ao nível dos Camarões frente à Croácia), que teve o maior número de lesões (10), que só marcou um golo sem uma grande ajuda adversária (Varela), cujo melhor jogador (e melhor do mundo em título) apareceu derrotado ao fim do segundo encontro, não se podia esperar mais do que ser eliminada. Ou, como disse Paulo Bento, lúcido, "tivemos o que merecemos".
De uma estrutura que deixou que tudo se focasse em Cristiano Ronaldo, no joelho, nos penteados, e em que mesmo dentro de campo os outros só procuravam Ronaldo mesmo coxo (no primeiro jogo) não se pode esperar mais.
De uma equipa que nunca conseguiu apresentar um futebol convincente - para lá dos azares e dos erros dos árbitros -, muito na linha do que fez na sofrível fase de qualificação, não se pode esperar muito mais do que ser eliminada da primeira fase de um Mundial. Se isto fosse o balanço de uma empresa, só dava linhas a vermelho...
Os erros
Jogadores - Quando alguns dizem que não temos mais jogadores, estão a dizer uma falsidade: Bosingwa, Rolando, Ricardo Carvalho, Danny, Eliseu (Málaga), Manuel Fernandes, Quaresma, Tiago, Adrien, eis um naipe de jogadores que têm categoria e experiência para a seleção e ficaram em terra. Não são jovens? Não, mas estas competições são para gente com quilómetros de grandes jogos. Paulo Bento disse - e bem - que a renovação de uma equipa nacional tem de ser feita com calma. É óbvio que boa parte da equipa ainda estará aí para o Euro 2016. Então andam tantos a falar no facto de Tiago (32 anos) ter deixado a seleção precocemente e querem reformar jogadores mais jovens? E há ainda o azar do selecionador se zangar muito e só com jogadores importantes - isso deve levá-lo a refletir, porque a culpa é capaz de não estar toda de um lado. Mas nunca foi isso que transmitiu.
Equipa técnica/médica - Foi um erro chegar tarde ao Brasil, foi um erro falar todos os dias na questão das condições climáticas - Joachim Löw disse na véspera do primeiro jogo que não falava mais de clima -, foi uma imprudência levar tantos jogadores presos por arames para um campeonato tão exigente. E o médico Henrique Jones não deu, na sua famosa conferência de imprensa, uma grande ideia de espírito de grupo (e não parece ser a primeira vez numa longa carreira na FPF).
Escolhas táticas - Temos um défice de pontas-de-lança com categoria e nesse aspeto Paulo Bento não se tem revelado um treinador com capacidade para prever as coisas: errou há dois anos quando fez uma grande aposta em Nelson Oliveira, completamente falhada; errou quando colocou Ivan Cavaleiro na lista dos 30 - hoje é claro que nem no Benfica acreditam muito nele; falhou ainda quando fez de Éder, voluntarioso, mas inexperiente nestas andanças, ainda zero golos pela seleção, o homem que podia resolver os problemas (Éder, quando muito, devia jogar nos últimos 20/30 minutos, quando os adversários já estivessem mais desgastados); no fim do dia, colocar Veloso a defesa-esquerdo foi outro erro - alguma imprensa internacional chamou de "risível" a forma como defendeu.
Os sinais positivos
Poucos, como se calcula. William Carvalho começou frente ao Gana aquilo que se espera que seja uma longa carreira como titular da seleção nacional, num dos sectores que precisa de sangue novo. Apesar de tudo, Éder confirmou que, mesmo não marcando golos com facilidade, pode ser muito útil no futuro da equipa nacional - para os golos estará lá Cristiano Ronaldo.