O maior teste do "formador" Lopetegui
FC Porto tem o maior orçamento de sempre em 2014/15 e ofereceu um plantel de luxo a Lopetegui, mas o "clássico" com o Benfica é a derradeira hipótese de evitar uma temporada sem títulos.
Julen Lopetegui enfrenta neste domingo o seu maior teste no futebol português, estando obrigado a vencer o Benfica para continuar a depender de si próprio para evitar uma época a "seco" no que a títulos diz respeito.
Quando Julen Lopetegui foi anunciado como treinador do FC Porto muitas sobrancelhas se ergueram. "Julen quê?". Depois de uma época tenebrosa, em que tudo o que podia correr mal correu, os adeptos portistas esperavam um nome impactante que fizesse esquecer as agruras de um terceiro lugar com o cunho de Paulo Fonseca (e posteriormente Luís Castro), que chegou ao clube com a aura de futuro do futebol português e saiu pela porta pequena.
Mas Jorge Nuno Pinto da Costa tinha uma ideia diferente. "Foi a primeira, a segunda e a terceira escolha", garantiu o presidente na apresentação do basco, nascido em Asteasu (Gipuzkoa). Em vez de optar por um técnico com currículo em grandes clubes, Pinto da Costa preferiu o "formador" Lopetegui, responsável pelo título europeu sub-19 da Espanha, em 2012, e de sub-21 no ano seguinte.
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O FC Porto versão 2014/2015 era um viveiro de jovens talentos e ninguém melhor que um homem com credenciais comprovadas na formação para geri-lo. "Percebi que queriam criar uma maneira de entender o jogo. Por isso, contrataram 16 jogadores novos. É a equipa mais jovem da história do FC Porto", revelou em fevereiro, numa entrevista ao El País, o antigo guarda-redes suplente de Real Madrid e FC Barcelona.
Homem de desafios, Lopetegui nem hesitou. (Muito) interventivo, quer nos treinos, quer no banco, o espanhol, de voz segura e gestos frenéticos, começou por impor a sua filosofia de jogo, uma filosofia em que a posse de bola é o eixo central, fortemente suportada pela ideia de um campo mais amplo, com desmarcações nas linhas.
Na pré-época, o antigo comentador desportivo não se saiu mal: zero derrotas em oito jogos, embora nenhum deles tenha sido com um colosso do futebol atual. E no 'play-off' de apuramento para a Liga dos Campeões também não, com o Lille a ser a vítima do novo FC Porto.
O caminho na I Liga começou seguro, com três vitórias, mas, aos poucos, percebeu-se que a equipa não jogava 'à Porto', ou seja, com a garra e a raça reconhecida nos 'dragões'. Foram três os empates, com Vitória de Guimarães, Boavista e Sporting, que valeram as primeiras críticas ao basco, mas foi a derrota em casa com o Benfica que irritou verdadeiramente os portistas.
Lopetegui, de rosto permanentemente fechado e sério e jeito brusco, não convencia os adeptos e as exibições da sua jovem equipa também não. A eliminação da Taça de Portugal, na terceira eliminatória, no estádio do Dragão, com uma derrota por 3-1 com o Sporting, foi a gota de água.
A instabilidade em torno do espanhol tornou-se evidente. Trocou galhardetes com Jorge Jesus e com o vice-presidente do Benfica Rui Gomes da Silva, com o treinador português Manuel José, lançou farpas à Federação Portuguesa de Futebol, à Liga e aos árbitros, ao mesmo tempo que, no campo, a sua equipa fracassava nos momentos importantes, desaproveitando sucessivamente os tropeções dos 'encarnados'.
No domingo, quando se sentar no banco do Estádio da Luz para defrontar o líder Benfica, que está a três pontos, o espanhol, de 48 anos, enfrentará, muito provavelmente, o mais sério teste à sua condição de treinador por três épocas do FC Porto. Se perder, com os 'dragões' já afastados da Taça de Portugal, da Taça da Liga e da 'Champions', na sequência do 1-6 de terça-feira, em Munique, Lopetegui arrisca-se a ser coresponsável por uma época sem títulos.