Diogo Ribeiro. Do grave acidente ao topo mundial com ajuda de Albertinho

Com 17 anos escreveu o nome na história da natação portuguesa, com três títulos mundiais júnior e um bronze nos Europeus absolutos. Começou a nadar com quatro anos.

Diogo Ribeiro saiu do anonimato com um bronze nos europeus de natação de agosto e ganhou agora um lugar na agenda mediática com três títulos mundiais júnior, em Lima (Peru). O jovem nadador, de 17 anos, conquistou o ouro nos 50 metros mariposa, na madrugada de domingo e com recorde mundial.

Antes tinha-se sagrado campeão mundial júnior dos 50 metros livres, com a marca de 21,92 segundos, à frente do cipriota Nicolas Antoniou e do croata Jere Hribar. É um novo recorde nacional de juniores, muito perto do máximo absoluto de Portugal (21,90), na posse de Miguel Nascimento (Benfica). "Não esperava terminar na casa dos 21 segundos. É incrível", disse, numa curta declaração, o atleta que já tinha conquistado o ouro nos 100 metros mariposa.

Impressionante tendo em conta que Diogo sofreu um acidente há um ano que obrigou a ficar internado com hematomas pelo corpo todo, queimaduras nas pernas, o ombro deslocado, um pé fraturado e uma lesão no peito, para além de ter perdido parte do indicador direito (mais tarde reconstruído). Tinha acabado de ser medalha de prata no Campeonato Europeu Júnior de natação, em julho de 2021, nos 100m mariposa, quando sofreu um acidente de moto. De de uma hora para a outra saltou do pódio para uma cama do hospital e viu a carreira em risco. "O acidente foi uma lição. Deu-me força mental e psicológica... acho que ganhei uma segunda vida", disse numa entrevista ao site Maisfutebol, onde confessou que aprendeu com os erros: "Achava que era indestrutível."

Um ano depois do grave acidente conquistou bronze nos 50 metros mariposa nos Campeonatos Europeus, em Roma. Um momento histórico para Portugal, que, até então, só tinha duas medalhas na história de Europeus - só Alexandre Yokochi (bronze, em 1985) e Alexis Santos (bronze, em 2016). A que agora se seguiram três ouros mundiais júnior em Lima, numa brilhante e inesquecível temporada, que incluiu ainda medalhas nos Jogos do Mediterrâneo.

Aos 17 anos já bateu recordes nacionais por mais de 50 vezes. Só nos nacionais de abril foram seis recordes da categoria de juniores e quatro absolutos. Um deles durava há 13 anos. Diogo fez os 50 metros mariposa em 23,69 segundos (que depois melhorou para 23,54) e derrubou a marca do nadador olímpico Simão Morgado, em vigor desde 2009. O atleta do Benfica foi também o primeiro português a baixar dos 49 segundos (48,96) nos 100 metros livres.

Nas piscinas desde bebé

Nascido a 27 de Outubro de 2004, Diogo era bebé quando teve o primeiro contato com uma piscina à boleia da irmã mais velha. Tinha quatro anos quando perdeu o pai - em memória dele tatuou uma estrela de David no ombro direito, o que deslocou no grave acidente de julho de 2021 - e a mãe decidiu colocá-lo na natação para ganhar "concentração". Aos oito começou por participar no Circuito Regional de Cadetes, em Coimbra, em representação da Fundação Beatriz Santos - Clube. Ao fim de quatro anos transferiu-se para o Clube Náutico Académico, ao serviço do qual consegue o primeiro pódio regional, mas é no União de Coimbra que as medalhas começam a fazer parte da vida do jovem nadador.

Em 2021 reforçou a natação do Benfica e foi integrado no Centro de Alto Rendimento (CAR) do Jamor, onde passou a treinar sob orientação do novo técnico nacional, o brasileiro Alberto Silva, mais conhecido como Albertinho, que trabalhou com os medalhados olímpicos César Cielo e Thiago Pereira no Brasil, então contratado pela Federação Portuguesa de Natação. E, segundo Diogo, até há uns tempos atirava-se para a água e nadava. Agora trabalha no ginásio, trabalha a biomecânica, faz estudos de viragem, chegada, técnica de partida.

Integra o projeto Olímpico Paris 2024 e sonha alto. Diz para quem o quer ouvir que quer ser um dos melhores do mundo e alcançar uma medalha Olímpica... objetivos que até há bem pouco tempo pareciam uma miragem, mas que agora ganham asas fruto de uma brutal evolução e um desempenho sem igual na natação portuguesa.

Compete com uma touca a dizer "Azevedo", quando na verdade se chama Diogo Matos Ribeiro. A explicação é simples. A federação teve um problema com o fornecedor das toucas antes dos europeus absolutos de Roma e Diogo quis usar uma touca com a bandeira portuguesa e assim entrou na água com a touca da atleta Rafaela Azevedo. Conseguiu um bronze histórico e decidiu mantê-la como amuleto da sorte nos mundiais júnior, onde acabou por conquistar três ouros.

isaura.almeida@dn.pt

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