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Desporto
23 junho 2022 às 22h05

Benfica regressa com novo treinador e Champions como primeiro objetivo do ano zero de Rui Costa

Com o primeiro jogo oficial marcado para o início de agosto, o novo treinador Roger Schmidt ainda tem o plantel por definir. Com cinco reforços garantidos, o alemão tem como principal desafio criar um coletivo "forte", segundo o ex-jogador Pedro Henriques, que alerta ainda para os problemas no meio-campo.

A bola só começa a rolar na segunda-feira mas o Benfica é o primeiro dos três grandes a dar o pontapé de saída para a nova temporada, com a realização dos testes médicos durante este sábado, depois da chegada do técnico alemão Roger Schmidt e da sua equipa técnica. Depois de três anos de fracassos que culminaram uma década bem sucedida, o clube da Luz vai enfrentar a nova época como uma espécie de "ano zero": será a primeira planeada de raiz pela direção liderada por Rui Costa (eleito em outubro) e marca uma mudança em relação aos anos recentes, desde logo pela aposta num técnico estrangeiro, algo que não se via na Luz desde 2009, quando o espanhol Quique Flores saiu para entrar Jorge Jesus.

Schmidt tem logo um objetivo claro, imediato e muito, muito importante: qualificar o Benfica para a fase de grupos da Liga dos Campeões, sendo que para isso tem de passar pela pré-eliminatória (sorteio dia 18 de julho) e pelo playoff. Tem ainda outra meta, mais longínqua, a de reconquistar a Liga que lhe escapa há três anos.

O que não deixa grandes dúvidas é que uma das primeiras tarefas de Roger Schmidt será a de "peneirar" um conjunto muito extenso de jogadores, entre os que transitam do plantel anterior, os que regressam de empréstimo e os que serão promovidos da formação. O técnico não quererá mais de 26 jogadores (as saídas de Pizzi, André Almeida, Grimaldo e Seferovic parecem inevitáveis) mas dificilmente verá o seu desejo cumprido: o de na próxima segunda-feira, dia do primeiro treino, ter o plantel o mais definido possível.

"Para já, é difícil de perspetivar o que será a época do Benfica, porque os dois últimos anos foram terríveis e há mais dois em que as coisas foram muito difíceis. Agora entra um treinador novo e, quando tal sucede, há sempre a esperança de aparecerem ideias novas, uma equipa mais forte coletivamente e que consiga verdadeiramente lutar pelo título, algo que não conseguiu fazer nos últimos dois anos. Ser candidato é uma coisa, lutar efetivamente é outra e não o fez. Nesse sentido, a expectativa é grande mas com as devidas precauções", começa por dizer Pedro Henriques, atual comentador e antigo jogador do clube da Luz, ao DN.

Para o antigo lateral-esquerdo, a presença na próxima Liga dos Campeões é importante mas não dramática, lembrando os dois últimos anos em que o Benfica também teve de se sujeitar a passar pelas pré-eliminatórias: "Num foi eliminado pelo Abel Ferreira e o ano passado conseguiu chegar à fase de grupos, curiosamente por "culpa" do Roger Schmidt [então técnico do PSV Eindhoven]. Olhando para o lado positivo, é uma oportunidade para fazer mais jogos e receitas de bilheteira. Se falhar esse objetivo... irá para a Liga Europa, com menos receitas e com a necessidade, eventualmente, de vender mais jogadores. Quanto ao eventual "barulho de fora" que tal provocaria, creio que não se pode estar a perder tempo a pensar nisso", disse.

Nesse sentido, o ex-futebolista pede mais inteligência aos adeptos. "A única coisa que podem fazer para ajudar a equipa a ganhar é apoiá-la e não atrapalhar. Não é deixar de exigir mas há maneiras de o fazer".

A chegada de um técnico habituado a campeonato onde se joga mais aberto (Roger Schmidt, de 55 anos, treinou na Alemanha, Áustria e Países Baixos) não será, segundo Pedro Henriques, um obstáculo ao seu sucesso em Portugal - mesmo que na eliminatória em Eindhoven nunca tenha desatado o nó defensivo montado por Jorge Jesus, algo que agora terá de enfrentar frequentemente, sobretudo nos jogos em casa da I Liga.

"Acho que é bom vir alguém dessas ligas mais abertas. Claro que os treinadores portugueses estão mais adaptados mas é a mesma coisa que dizer que o Guardiola vai para aqui e para ali e vai mudar a forma de jogar. Não mudou. Na Alemanha introduziu nuances mas os treinadores, quando são bons, têm a capacidade de se adaptar. Não vejo que isso seja problema. Se vai ser difícil? Vai! E não tanto pela nossa Liga, mas porque tem de enfrentar um FC Porto forte e um Sporting forte, que têm bons treinadores, têm conseguido bons resultados e cujas equipas são muito fortes em termos coletivos. E esse é o grande objetivo do Roger Schmidt: transformar outra vez o Benfica numa equipa forte coletivamente", refere o comentador.

Certo é que, para já, Roger Schmidt vai ter de lidar com muita indefinição na constituição de um plantel que, tal como nos últimos anos, terá por certo muita qualidade individual, isto apesar da saída do avançado uruguaio Darwin Núñez, cuja explosão em 2021/22 proporcionou mais um grande encaixe financeiro aos cofres da SAD encarnada.

Com a ascensão da geração que venceu a Youth League há bem pouco tempo, ainda não é percetível se a aposta passará também por misturar esses talentos emergentes com jogadores mais credenciados, mas o certo é que o clube continua a tentar recuperar Ricardo Horta para juntar aos cinco reforços já anunciados: os laterais Alexander Bah e Mihailo Ristic, o extremo David Neres, o avançado Petar Musa e, mais recentemente, o médio Enzo Fernández. Em relação ao argentino, a data de chegada ao Seixal ainda não está definida, em cima da mesa está a possibilidade de vir já em julho ou apenas após a eliminação do River Plate da Copa Libertadores, cuja final está marcada para 29 de outubro.

"O ideal é uma semana antes de começar o trabalho ter o plantel fechado: saídas tratadas, contratações feitas... Mas isso era num mundo perfeito. Os clubes portugueses não têm dinheiro para essa brincadeira, para bater cláusulas de rescisão e, por isso, está quase tudo na mesma. Saíram o Everton e o Darwin - foi ele que através de rasgos individuais conseguiu dar o safanão em muitas partidas e sem ele o Benfica não vai poder jogar em profundidade, era o único com essas características -, entraram os dois laterais e o Musa, mas a questão do meio-campo é a mais preocupante. Com o Enzo fica resolvida uma parte do problema, um dos três lugares fica preenchido. Agora é preciso saber quando é que ele chega. Mas por aquilo que jogou no River é um jogador que encaixa na ideia do treinador e os argentinos não costumam ter problemas na adaptação", assinala Pedro Henriques, que não vê como provável uma grande aposta na juventude: "A formação não pode ser uma obrigação mas o Benfica tem de deixar vagas abertas para se poder apostar neles. Tendo equipa B, sub-23 e sub-19 e com um plantel base forte, podia ter os tais 22 jogadores de grande qualidade e depois, se fosse caso disso, puxar algum. O Rúben Amorim tem feito isso no Sporting com mais frequência".

Refira-se que os encarnados têm agendados jogos particulares com Nice (15/7), Fulham (17/7), Athletic Bilbau (22/7) e Newcastle (26/7, na Eusébio Cup), depois de um estágio em Inglaterra entre os dias 8 e 14. A 2 ou 3 de agosto começa a caminhada na Liga dos Campeões.

dnot@dn.pt