Desporto
04 junho 2023 às 19h34

Vice-rei Sérgio Conceição levantou a 19.ª Taça de Portugal dos dragões

FC Porto venceu o Sp. Braga (2-0), numa final decidida com um autogolo de André Horta e um golo de Otávio. Portistas conservam o troféu por mais um ano no Museu e acabam a época com três títulos. Técnico passa a ser o segundo mais titulado do futebol português.

A 19.ª Taça de Portugal do FC Porto (a 2.ª consecutiva, a 3.ª nas quatro últimas épocas) tem muito de Sérgio Conceição. Não pela tática, estratégia ou ação na final ganha este domingo ao Sp. Braga - até porque jogou mais na reação às adversidades do que outra coisa -, mas pelo que significa para ele e para o clube a conquista de mais um troféu.

É o primeiro técnico a dar três taças ao clube em 130 anos de história. E, não menos importante, conseguiu-o em cinco anos. Já tinha ganho em 2020 e 2022 - mantendo assim o troféu no Dragão. Embora a conquista não salve a época, segundo o próprio disse antes desta final, a taça acresce aos outros dois troféus conquistados este ano desportivo: a Taça da Liga e a Supertaça. Nas competições nacionais do FC Porto, só fugiu mesmo o campeonato, para o Benfica.

Com o troféu ontem conquistado, o clube chegou aos 84 títulos (igualando o Benfica, segundo os registos oficiais) e o técnico de 48 anos passou a ser o segundo com mais troféus no Jamor (só Otto Glória e José Maria Pedroto têm quatro) e superou mesmo Glória e Joseph Szabo no número global de troféus, passando a ser o segundo treinador mais titulado do futebol português (10), sendo apenas superado por Jorge Jesus (12). Se ficará no Dragão para tentar bater todos os recordes e recuperar o título perdido é uma questão "para os próximos dias".

Reconhecendo tudo isso, o capitão Pepe - que na véspera disse na cara de Sérgio Conceição que era o melhor treinador da sua carreira - levantou-o em ombros para ser ele a erguer a Taça de Portugal num momento emocionante, com o técnico a erguer o troféu com dois filhos ao lado, o mais novo levantado também em ombros por Rodrigo Conceição, que faz parte do plantel e hoje não saiu do banco de suplentes.

A quarta final entre dragões e guerreiros no Jamor começou e logo parou. Pepe pisou Abel Ruiz, que precisou de largos minutos para se recompor. O pisão portista doeu e foi prolongado. Aos 32 minutos o domínio azul e branco era avassalador. Mesmo tirando uma bola no poste e uma oportunidade de golo que não contou, a equipa de Sérgio Conceição somava cinco oportunidades de golo, três delas de Evanilson. Mas Matheus entrou no Jamor determinado em ser gigante e impediu todas elas. A defesa feita aos 21 minutos foi estrondosa.

O rolo compressor portista ia sendo desligado só periodicamente e à força. O recurso à falta deu fôlego à equipa bracarense, mas não resolveu o problema da falta de pulmão a meio campo e de cérebro para pensar o jogo ofensivo. Ricardo Horta aparecia mais vezes como médio numa espécie de 4x2x3x1 resultante da pressão adversária. A primeira grande oportunidade de golo para o Sp. Braga aconteceu aos 38 minutos e numa altura em que os dragões já tinham colocado Matheus à prova por cinco vezes! Mantendo a tradição das taças, Cláudio Ramos foi titular em vez de Diogo Costa e impediu o golo de Ricardo Horta.

Ao intervalo, a estatística refletia a superioridade portista, mas o único número com importância era o 0-0 no marcador. Os dragões seriam mais eficazes no segundo tempo apesar da menor posse de bola e do domínio menos efusivo.

Toni Martínez tinha entrado antes do intervalo para o lugar de Evanilson e acabou por estar ligado ao golo que colocou o FC Porto em vantagem. Otávio serpenteou por entre adversários e lançou Galeno, que, num cruzamento venenoso colado à relva, obrigou André Horta a fazer autogolo. A ideia do bracarense era impedir que a bola chegasse ao espanhol, mas foi infeliz e abriu as comportas da baliza de Matheus, naquele que foi o quinto autogolo numa final.

Infeliz foi também Wendell no momento em que deixou a equipa a jogar com dez com ainda meia hora para jogar. Uma entrada feia e sem nexo sobre Victor Gómez, num lance longe da área que o VAR ajudou a "ver". A atitude de "não fiz nada" que teve adiantou zero e só acelerou o aumentar do número de expulsões da época (9).

Sérgio foi mais uma vez forçado a mexer na equipa e a repensar a estratégia aos 62 minutos, sacrificando o avançado espanhol para equilibrar a equipa defensivamente com Zaidu. O porquê de tirar o fresco Toni Martínez em vez de Taremi seria percebido mais tarde, quando o iraniano fugiu e foi derrubado por Niakaté... que acabou expulso (pela 3.ª vez na época). Ainda a recuperar do golpe os guerreiros sofreram o segundo golo. Nova assistência de Galeno, agora para golo de Otávio, que ganhou no ombro para ombro com Racic. Antes de sair o ex-Sp. Braga ainda testou o ferro da baliza de Matheus.

O estreante Artur Jorge acabou por ter culpa na forma como a equipa perdeu o jogo desde o início. Uma culpa que vai para lá da responsabilidade inerente ao cargo. O Sp. Braga nunca colocou o FC Porto à prova, nem mesmo quando jogava com mais um. Tal com o em 1998, quando era capitão dos guerreiros do Minho, Artur Jorge voltou a sair do Jamor derrotado pelo FC Porto e por Sérgio Conceição. Mas, como o próprio disse, "a não vitória na final" não belisca a boa época do Sp. Braga e esse 3.º lugar na I Liga.

isaura.almeida@dn.pt