Desporto
15 junho 2021 às 16h52

Abram alas ao campeão da Europa. Portugal vence com dois golos e dois recordes de Ronaldo

Seleção nacional bateu a Hungria, por 3-0, no jogo de estreia do grupo F. Há 13 anos que não entrava a vencer num Europeu. Golos de Raphaël Guerreiro e Ronaldo são resultado da boa exibição lusa e tiveram dedo de Fernando Santos. Terceiro golo teve 33 toques...

"Simmmm..." Desta vez não houve entrada em falso. Portugal venceu ontem a Hungria (3-0), com dois golos e dois recordes de Cristiano Ronaldo. Desde o Euro2008 que a seleção não ganhava no jogo de estreia. O enguiço com 13 anos foi quebrado e o capitão voltou a fazer história. É agora o único jogador do futebol mundial a ter participado em cinco Campeonatos da Europa (2004, 2008, 2012, 2016 e 2020) e aquele que mais golos marcou em fases finais de Europeus (11). CR7 tem agora 106 golos pela seleção (em 176 jogos) e está cada vez mais perto do recorde de golos de Ali Daie (109).

Números monstruosos daquele que ontem mais parecia ser o inimigo número 1 do povo magiar. Cada erro do português era festejado nas bancadas (55 mil pessoas) como se de um golo húngaro se tratasse. CR7 respondeu com dois golos e é caso para dizer que com água (ou coca-cola) a pesada derrota será menos indigesta para uma seleção que acabou derrotada, mas aplaudida pelos seus.

Para início de conversa, o jogo de estreia do Campeão da Europa decorreu num universo paralelo, onde não existe medo da covid-19, as máscaras passaram a ser uma acessório do passado e as bancadas estavam cheias de adeptos barulhentos e entusiastas, que devem até ter atrapalhado alguns pensamentos dos jogadores.

Resumindo: A seleção nacional teve 45 minutos dignos do estatuto de campeã da Europa (talvez a melhor exibição de uma equipa entre as 24 em prova no jogo de estreia a par da Espanha) e outros 45 minutos de sofrimento, paciência, eficácia e toque do midas de Fernando Santos... ingredientes válidos na construção de um resultado positivo e de uma equipa vencedora.

Com seis campeões da Europa no onze e cinco estreias em fases finais (Rúben Dias, Nélson Semedo, Bruno Fernandes, Diogo Jota e Bernardo Silva), Fernando Santos optou pela dita abordagem conservadora, com duas torres no meio campo. Danilo e William Carvalho foram a novidade, para além da esperada titularidade de Nélson Semedo face à dispensa de João Cancelo (infetado com covid-19).

Os dois médios seriam essenciais na estratégia portuguesa, que fez jus ao lema neste Europeu: "Vamos com tudo". Portugal entrou mesmo com tudo, escudado por Danilo e William, aqueles que protegiam defensivamente e davam equilíbrio ofensivo. A atacar, o médio do PSG baixava muitas vezes para junto de Rúben Dias e Pepe num falso esquema de três centrais e com dois laterais super-ofensivos, enquanto William pisava vários terrenos e fazia rodar Bernardo, Bruno Fernandes, Ronaldo e até Jota na frente.

A primeira oportunidade de golo foi de Portugal e de Jota aos cinco minutos. Um lance que hoje dividirá os portugueses nas conversas de café -se para uns o cavalo selvagem de Massarelos mostrou a raça e atrevimento necessários em vez de subserviência a Ronaldo... para outros devia ter passado a bola a CR7, que se isolava pelo lado esquerdo. O desacerto entre ambos foi evidente na primeira parte, assim como a falta de presença na área para um sem número de lances de bola parada durante a partida toda.

Apesar da fúria do capitão, o lance de Jota levou perigo à baliza de Gulácsi e seria indicador do que aconteceria em 90 minutos. Portugal a construir jogo, com muita paciência e circulação de bola, face ao 5X3X2 montado por Marco Rossi, que fez com que a Hungria jogasse em 30 metros e fechando os espaços com ajuda vinda das bancadas. Patrício (igualou Rui Costa com 94 internacionalizações) era um mero espetador. Mas aos 37 minutos mostrou estar atento e segurou remate de Adam Szalai.

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Do outro lado, Gulácsi (guarda-redes do Leipzig) teve de se aplicar para evitar o golo português em mais de uma ocasião. Opôs-se sempre aos rasgos de Jota e aos impulsos de Ronaldo, e levou o jogo a zero para o intervalo. Foi o sétimo empate seguido da seleção num europeu ao intervalo. Um bom indicador, apesar de Fernando Santos ter renegado a estatística na véspera, tendo em conta que foi campeão da Europa em 2016.

O segundo tempo voltou ao mesmo ritmo e Gulácsi esticou-se todo e a uma velocidade elástica para impedir o golo de Pepe aos 46. Sempre com futebol corrido e sustentado foi preciso esperar até aos 67 minutos para Portugal fazer uso da meia distância. O remate de Bruno Fernandes passou a centímetros do poste, mas mostrou que havia alternativas para chegar ao golo. Faltavam transições e talvez por isso o selecionador tenha tirado Bernardo Silva para dar lugar a Rafa. Uma alteração à passagem dos 70 minutos que surpreendeu alguns, mas que resultou. Apesar dos nervos iniciais em algumas perdas de bola e más decisões ofensivas, o jogador do Benfica esteve nos três golos (serviu Guerreiro, ganhou um penálti e esteve na tabelinha com Ronaldo que iria dar o 3-0).

Nesta altura a Hungria ganhava confiança e equilibrou o jogo, apesar do cansaço evidente quando ensaiava o contra-ataque. E num desses lances chegou mesmo a fazer entrar a bola na baliza, mas Schon estava em fora de jogo e o lance foi anulado.

O jogo entrava nos últimos 10 minutos sem golos, mas a partir daí tudo mudou. Portugal fez três golos e colocou a chamada justiça no resultado, já com Renato Sanches e André Silva em campo. Raphaël Guerreiro, o português que mais correu no jogo, apareceu na área para fazer o 1-0 aos 81'. A bola ainda tabelou num defesa, mas estava quebrada a compacta barreira defensiva da Hungria. Depois Rafa sacou uma grande penalidade para Ronaldo marcar. E o jogo só terminaria com o bis do capitão, a finalizar uma bela jogada da equipa com 33 toques, que o tornaria no homem do jogo. CR7 agradeceu e disse que agora é para "continuar assim"... já frente à Alemanha, no sábado.

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isaura.almeida@dn.pt