Desporto
21 maio 2022 às 22h08

Entre a dobradinha e o sonho beirão, a festa volta ao Jamor

Dragões lutaram pelo troféu por 16 vezes, sem ser com Sporting e Benfica e só por uma vez não o conquistaram: proeza do Leixões em 1961. Jogo pode ser histórico para Sérgio Conceição uma vez que se pode tornar o primeiro treinador da história portista a oferecer duas dobradinhas ao clube. Tondela estreia-se no Jamor depois de descer de divisão e quer ser o quinto "pequeno" a levantar a taça rainha do futebol português. Jogo começa às 17h15 (TVI).

Os chamados grandes têm dominado a prova rainha do futebol português desde que a Académica venceu a primeira edição em 1939. Benfica, Sporting e FC Porto reúnem 60 dos 81 troféus disputados. Tirando as duas ocasiões em que a prova não se realizou (1947 e 1950), só por 21 vezes o vencedor não foi um dos grandes. É essa a história que o estreante Tondela terá de contrariar hoje frente aos dragões (17h15, TVI), na final que está de regresso ao Jamor, depois de nos dois últimos se ter realizado em Coimbra, para repetir os feitos das outras quatro equipas de idêntica dimensão que já lograram erguer o troféu - Leixões (1961, após triunfo sobre o FC Porto), Estrela da Amadora (1990, após vencer o Farense), Beira Mar (1999, após vencer o Campomaiorense) e Desp. Aves (2018, após vencer o Sporting).

A história azul e branca nas finais da prova rainha demorou a escrever-se. Só 14 anos depois conseguiram a primeira final. Foi em 1953 e com uma pesada derrota frente ao Benfica (5-0), o adversário que mais vezes defrontou os dragões no jogo de atribuição do troféu(10). Desde então, o FC Porto já marcou presença em mais 30 finais, tendo conquistado 17 troféus (tantos como o Sporting). Também por isso o desfecho do jogo de hoje pode fazer a diferença, colocando os dragões como a segunda equipa com mais troféus - só atrás do Benfica (26).

Mais de metade das finais portistas (16) foram frente a um adversário que não dava pelo nome de Benfica ou Sporting. E só por uma vez os dragões perderam o troféu para uma equipa de menor dimensão. Foi em julho de 1961, frente ao Leixões (2-0), então treinado pelo argentino Filpo Nuñez, em pleno Estádio das Antas. Dois golos em três minutos (Silva, aos 66", e Oliveira, aos 69") deram um triunfo histórico aos homens do mar, que ainda hoje é recordado e que permitiu ao capitão Raul Machado receber o troféu das mãos do então presidente da República Américo Tomás.

Algo que João Pedro, o capitão do Tondela , gostaria de repetir hoje, 61 anos depois, no Jamor com Marcelo Rebelo de Sousa. E o presidente que lidera o clube beirão desde 2003 acredita. "Vencer a Taça de Portugal não é fácil, mas é possível", confia Gilberto Coimbra: "Por isso, há o brio, há a dignidade, há o profissionalismo, há o ser do Tondela, há o pertencer à família do Tondela e há que defender a camisola."

Com gestão espanhola desde 2018, quando o clube vendeu 80% da SAD ao Houpe Groupe, detentor de clubes como o Granada e o Parma, por 6,2 milhões de euros, o Tondela tem no ex-futebolista David Belenguer o líder do projeto do futebol profissional, que irá para o jogo mais importante da sua história mergulhado na tristeza da descida de divisão ao fim de sete anos de convívio com os grandes.

A ida à final da Taça de Portugal "seria com outro ânimo" não fosse esse desfecho, como reconheceu Gilberto Coimbra: " Agora, há que levantar a cabeça e enfrentar e demonstrar aos atletas que, principalmente para eles, é um dia histórico a final no Jamor."

Além de enfrentar o campeão nacional, os beirões jogam também contra a tradição por um lugar na história, uma vez que a lei do mais forte tem sido quase sempre regra no Jamor.

A época poderá ser épica para o treinador portista Sérgio Conceição. Se juntar a Taça de Portugal ao campeonato, torna-se o primeiro técnico da história a oferecer duas dobradinhas ao FC Porto, uma vez que o conseguiu em 2019-20... e com a particularidade de o conseguir no espaço de dois anos.

Até hoje há registo de 25 dobradinhas no futebol português, com o recordista Otto Glória a conseguir o feito por três vezes ao serviço do Benfica (1954-55, 1956-57 e 1968-69). Sérgio Conceição pode chegar à segunda dobradinha e deixar para trás os seis técnicos que festejaram a dobrar numa só época ao serviço dos dragões: Dorival Yustrich (1956), Tomislav Ivic (1988), António Oliveira (1998), José Mourinho (2003), Co Adriaanse (2006) e Jesualdo Ferreira (2009).

Conquistar a segunda Taça de Portugal fará de Conceição o 11.º técnico com dois troféus e o quarto no que à esfera azul e branca diz respeito, podendo assim igualar o feito de Fernando Santos, Jesualdo Ferreira e Pedroto (conquistou ainda mais duas pelo Boavista). Motivações extra para Sérgio Conceição, que é um dos três dragões que já levantaram a Taça como jogador e treinador.

Isto numa temporada em que já foi campeão nacional com um recorde de pontos (92) e de jogos consecutivos sem perder (59). Não conseguiu ser campeão sem derrotas, mas entrou no restrito grupo dos treinadores portugueses com três títulos nacionais. É também o técnico que mais tempo aguentou no banco portista na era Pinto da Costa. Orienta os portistas desde 2017 e tem contrato até 2023, mas o Jamor irá dissipar as dúvidas da continuidade.

isaura.almeida@dn.pt