Desporto
10 junho 2023 às 20h35

Bernardo e Rúben erguem "orelhuda" na primeira vez do Manchester City

Ao bater o Inter de Milão na final de Istambul, por 1-0, graças a um golo do espanhol Rodri, a equipa de Pep Guardiola conseguiu finalmente o título que lhe faltava e para o qual o internacional português João Cancelo também contribuiu.

Nuno Coelho

Numa das épocas do final do século XX, em 1998/99, a classificação final do terceiro escalão do futebol inglês (então a Second Division) incluia o nome do Manchester City na terceira posição, que dava acesso ao playoff de promoção (não fosse um tal de Paul Dickov a marcar no último minuto da final e a história podia ter sido diferente). O clube subiu mas só a partir de 2002/03 é que os sky blues se firmaram, de vez, na Premier League. Mas, com tempo, (muito, muito) dinheiro, planificação eficaz, alguma história e uma base de apoio suficientemente forte, não há impossíveis no futebol. Como se confirmou este sábado em Istambul: duas décadas depois, Manchester volta a acolher um campeão europeu e, desta feita, não é o United.

Confirmando o favoritismo com que partiam para o encontro decisivo frente aos italianos do Inter, algozes de FC Porto e Benfica, os citizens conseguiram o segundo troféu europeu da sua longa história (tinham vencido a extinta Taça das Taças em 1970, sob o comando de um tal Malcolm Allison...), desta feita a mais ambicionada "orelhuda" - taça assim conhecida pelo sua formato. À sétima época no clube mancuniano, Pep Guardiola conseguiu finalmente a consagração europeia longe da Catalunha natal (onde venceu duas vezes), com três portugueses a contribuírem, e bem, para o treble (além do triunfo internacional venceram a Premier League e a Taça de Inglaterra): Bernardo Silva, Rúben Dias e João Cancelo (que deixou o clube em janeiro, rumando ao Bayern Munique, mas esteve em todas as partidas da fase de grupos, somando cinco assistências).

Naquele que foi o primeiro confronto oficial entre City e Inter, que até mereceu a presença no jogo do Xeque Mansour, dono árabe dos ingleses (o que não sucedia há 13 anos!), Guardiola optou por Akanji à direita em vez de Walker, com Stones de novo num papel híbrido entre o meio-campo e a defesa.. E, se os mancunianos até podiam ter marcado cedo, num lance em que Bernardo Silva teve espaço para entrar na área e rematou em arco bem perto do ângulo (6"), a verdade é que a primeira parte não foi um grande espectáculo.

O Inter fechou bem os caminhos para a sua baliza e apenas voltou a assustar-se num lance em que De Bruyne conseguiu desmarcar Haaland com o norueguês a rematar cruzado e em força mas à figura de Onana (27").

Mas a verdade é que, mesmo parecendo mais à vontade no jogo, a equipa nerazzurra também não conseguiu aproveitar os dois lances em que podia ter feito mais, ambos na sequência de erros de Ederson: no primeiro, o guarda-redes (o terceiro ex-Benfica em campo) deixou que Lautaro ganhasse de cabeça uma bola na linha de fundo (12") embora sem consequências de maior; no segundo, Barella não aproveitou um mau passe do brasileiro, tentando um chapéu que nem saiu perto da baliza (26").

Quando o intervalo chegou, com o natural nulo no marcador (e apenas três remates enquadrados, com vantagem do City), já Guardiola tivera de fazer uma substituição. Kevin de Bruyne queixou-se à passagem da meia-hora de um problema muscular, com o catalão a fazer entrar Phil Foden seis minutos depois.

Mesmo assim, as coisas não mudaram na segunda parte. As equipas continuaram encaixadas, com o City mais subido no terreno e o Inter a tentar explorar os espaços. Mesmo longe de brilhante, a partida exigia muito em termos físicos e Dzeko foi o primeiro nerazzurro a capitular, com Inzaghi a lançar de imediato Lukaku para o jogo (57"). Logo a seguir, novo erro da defesa do City e grande ocasião para os italianos. Akanji deixou passar um atraso sem se fazer à bola e Lautaro aproveitou para surgir na cara de Ederson. Desta feita, o guardião foi rápido a sair e conseguiu defender o remate do argentino, que tinha pouco ângulo para fazer muito melhor (58").

Já depois de ganhar o seu primeiro canto aos 64", o Manchester City conseguiu finalmente chegar ao golo, caído de um céu azul. Não por falta de mérito no lance (bela abertura de Akanji para Bernardo, que cruzou contra Acerbi) mas por aquilo que a equipa não tinha feito até então. O ressalto em Acerbi sobrou para a entrada da área e Rodri, de primeira, colocou a bola pelo buraco da agulha no fundo da baliza de Onana, que nada podia fazer (67").

A resposta do Inter foi quase imediata mas não tão feliz. Dimarco, depois de Dumfries ganhar uma bola aérea, aproveitou mais um erro de Akanji e cabeceou sobre Ederson: o remate bateu na trave e a recarga, do mesmo jogador acertou em Lukaku (71"). Com o tempo a escassear, os espaços apareceram, tal como as oportunidades. O avançado recém-entrado mostrou que o dia não era dos belgas (73") e Foden isolado esteve perto de matar o jogo (77"). Inzaghi mexeu, Guardiola também mas já nada se alterou - porque Lukaku desperdiçou uma oportunidade incrível aos 88", cabeceando a dois metros da baliza contra a perna de Ederson, que ainda fez uma defesa milagrosa no último canto do jogo. A "orelhuda" foi mesmo para Manchester e Bernardo Silva e Rúben Dias puderam celebrar uma época perto da perfeição.

dnot@dn.pt