23 junho 2018 às 23h31

Marcelo triunfa no Campo Pequeno com Teixeiras de Bandeira

Miguel Ortega Cláudio faz a crónica da corrida desta quinta-feira no Campo Pequeno, numa noite com toiros de verdade

Miguel Ortega Cláudio

Lisboa recebeu, na quinta-feira passada, dia 21 de junho, numa das suas mais bonitas e emblemáticas salas de espetáculos, uma "corrida de toiros extraordinária de oportunidade extra abono". Quando se fala em oportunidades, ou se agarram ou então fica tudo na mesma. No Campo Pequeno houve quem as tivesse agarrado e de que maneira: Marcelo Mendes!

Houve toiros de verdade. Que são, afinal, a verdadeira essência de um espetáculo que quando não tem risco se desvirtua e se perde, perdendo também o interesse... Muitas vezes, vê-se mais do mesmo e até chateia. Ontem, não foi assim. Houve emoção, houve toiro!!

Estavam apartados para esta corrida seis estampas da ganadaria Veiga Teixeira. Se no campo apresentavam um trapio irrepreensível, na praça não defraudaram quem os foi ver. Animais bem feitos, equilibrados de cara, bonitos de lamina, verdadeiras estampas de toiro bravo. Foram na generalidade bravos, sérios, com mobilidade, emoção, humilharam nos capotes quando lhes foi "pedido", acometiam aos cavalos com largura e nobreza. Um corridão de toiros. Parabéns ganadero!

Bravo o primeiro, manso o segundo, com recorrido o terceiro, bravo de bandeira o quarto, reservado o quinto e bravo o sexto.

Confirmou a alternativa Gonçalo Fernandes, cavaleiro beirão muitas vezes esquecido pelos empresários, mas quando tenho oportunidade de o ver nunca defrauda! Nos compridos talvez tenha acusado a pressão da primeira praça do País, mas brilhou em curtos de grande emoção, evidenciando consistência e valor. E atrevimento! Fernandes deu em Lisboa um grito muito forte de afirmação.

O segundo toiro Veiga Teixeira foi a fava da noite! Marcos José deu-lhe a volta e a sua lide foi de valor, sobretudo depois de o toiro se fechar em tábuas e exigir dele entrega e grande esforço. Não houve brilhantismo, porque com um toiro assim não podia haver. Mas houve muito valor. Muito mesmo.

Gilberto Filipe andou solvente e desembaraçado durante toda a lide, mostrou conhecimento e aproveitou um toiro que, de princípio, não parecia o que ia ser. Tem escola, tem bases e está bem montado. Deixou boas impressões. É um excelente equitador e é um toureiro com princípios, que se rege por uma linha clássica, de verdade e de emoção.

O que fez quarto da noite estava marcado com o número 562, 590 kg. Um toiro que dava pelo nome de "Submerso" e foi de bandeira! Marcelo Mendes aproveitou a oportunidade e foi o grande triunfador da noite. Esteve senhor da situação, transmitiu segurança e evidenciou sobriedade e serenidade, muita atitude e um valor à prova de bala. Brilhante nos dois compridos, galvanizou o público com os curtos em terrenos de alto compromisso e em sortes de alto risco, saindo airosamente e bregando como quem sabe o que faz.

Parreirita Cigano não teve música e não foi autorizado a dar volta à arena, mas também não esteve mal. Nem bem. Houve disposição, manifestou-a. Faltou brilhantismo e não repetir sempre as sortes de cambio a um toiro que não lhe permitia tal sorte.

Verónica Cabaço mostrou alguma verdura e acusou nos compridos a pressão do Campo Pequeno. Nos curtos andou correta, aproveitando a mobilidade e nobreza do bravo sexto. O público esteve carinhoso com a cavaleira e reconheceu-lhe a disposição.

Diz-se que para toiros de emoção, Forcados de barba rija. E foi isso que aconteceu, a espaços, no Campo Pequeno. Pegas brilhantes, duras, rijas houve, mas também houve outras menos brilhantes e emotivas. Os toiros quando foram bem colocados saíram com pata, a meterem bem as caras e a empurrarem o grupo até ao fim. Quando foram colocados nos médios ou mais... foram reservados e com a "maldade" característica de quando se fazem mal as coisas aos bravos...

Abriu praça pelos Amadores de Coimbra, Ricardo Matos à segunda tentativa; Carlos Polme por Monsaraz a sesgo concretizou à terceira; Bernardo Campino numa boa pega à primeira tentativa pelos Amadores do Cartaxo; Pedro Silva à terceira tentativa pelos Amadores de Coimbra; André Mendes à terceira pelos Amadores de Monsaraz; Fechou a noite Fábio Beijinho numa grande pega à primeira tentativa pelos do Cartaxo.

Dirigiu superiormente Manuel Gama, assessorado pelo médico veterinário Dr. Moreira da Silva.

Síntese da corrida:

Foi guardado um minuto de silêncio pelos antigos forcados Edmundo Oliveira, Luis António Rosa Faustino "Licas" e pelo bilheteiro Luís Carlos.

Toiros da ganadaria Veiga Teixeira bem apresentados, bravos na generalidade, com destaque para primeiro, quarto e sexto. O ganadero António Francisco Teixeira deu uma merecida volta à arena no sexto da corrida.

Cavaleiros: Gonçalo Fernandes que confirmava a alternativa (Volta); Marcos José (Volta); Gilberto Filipe (Volta); Marcelo Mendes (Volta com chamada aos médios), Parreirita Cigano (Silêncio); Verónica Cabaço (Volta)

Forcados: Ricardo Matos (Volta); Carlos Polme (Palmas); Bernardo Campino (Volta); Pedro Silva (Palmas); André Mendes (silêncio); Fábio Beijinho (Volta).

*As voltas à arena no final das lides são concedidas pelo diretor de corrida como prémio à qualidade da performance artística dos intervenientes ou pela bravura dos toiros