Festival New European Bauhaus: a construção de uma Europa mais inclusiva e sustentável
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Festival New European Bauhaus: a construção de uma Europa mais inclusiva e sustentável

De 9 a 13 de abril decorreu a segunda edição do Festival New European Bauhaus no Parc du Cinquantenaire e no museu de Arte e História de Bruxelas. O evento incluiu atuações musicais, sessões de cinema, conversa sobre como construir um futuro inclusivo e sustentável.
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Durante quatro dias o Parc du Cinquantenaire e o museu de Arte e História , em Bruxelas, receberam a segunda edição do festival que mistura cultura, inovação e sustentabilidade, o New European Bauhaus. 

Esta bienal é organizada pela Comissão Europeia em colaboração com a presidência belga do conselho da União Europeia. Os quatro dias incluiram atuações musicais, sessões de cinema, conversas e a quarta edição da entrega dos prémios New European Bauhaus. 

“O principal objetivo do festival é criar conversas sobre construir um futuro bonito, inclusivo e sustentável. O evento procura juntar um grupo variado de intelectuais, artistas, designers e políticos para fomentar uma troca de ideias para novas soluções e melhores estilos de vida. Durante o festival, os visitantes podem assistir a diferentes discussões e participar em workshops”, explicou a organização do festival por e-mail ao DN. 

Este ano a edição focou-se no mundo da moda e da construção - incluindo a reconstrução da Ucrânia. Com cerca de sete mil participantes “[o evento] Pretende envolver todos os que querem criar um futuro sustentável juntando tecnologia, cultura e arte",acrescenta a organização do festival. 

Projetos expostos

Ao entrar no museu de Arte e História, logo depois da receção, numa sala com corredores de madeira encontrava-se a feira com vários projetos, de vários países da União Europeia, expostos.

"Entre_Laços" é um deles. Concebido por Mariana Rosa, de 23, e Nicolás Pineda, de 27 anos, a dupla expôs uma maquete e um vídeo sobre uma intervenção urbana para a reabilitação do espaço público no bairro da Mouraria, em Lisboa, através de um método de co-criação com as comunidades locais.

“É um evento informal para que a população possa se sentir incluída no processo e que não haja barreiras entre os designers e eles. Estamos a dar a entender que a população também conseguem pensar como um arquiteto ou como um designer”, afirmou Nicolás Pineda em conversa com DN. 

Mariana Rosa, de 23, e Nicolás Pineda, de 27 anos, durante o festival na apresentação do seu projeto.

O projeto foi desenvolvido no âmbito do mestrado de Design para a Sustentabilidade. A maior dificuldade, segundo os dois jovens, foi conseguir a confiança da comunidade da Mouraria. “Não somos do bairro e tivemos que estar constantemente em contato com eles para que nos pudessem assumir como uma entidade.  Acabámos por conseguirmos porque estávamos também ligados a algumas associações do bairro", acrescenta Mariana Rosa. 

Os dois jovens inscreveram-se na plataforma da Comissão Europeia em setembro do ano passado na área de projetos de reconexão com a natureza e sensação de pertença do território. Em janeiro deste ano, foram contactados para apresentarem o seu projeto no festival e fazerem um workshop no festival. 

Durante estes quatro dias, foram vários os designers de diferentes locais da Europa também passaram pelo stand da "Entre_Laços". “Percebemos que não somos só nós em Lisboa a trabalhar neste tipo de projetos, mas sim uma rede muito maior. Sem dúvida que a New European Bauhaus nos deu essa perceção. Foi muito gratificante”, sublinhou Mariana Rosa. 

Noutro corredor, encontra-se o projeto "Entity" da Ucrânia que apresentava as suas esculturas e pequenas estruturas abstratas feitas em borracha colorida. Este é um projeto de vários produtores e designers de moda que utilizam o material das solas de sapatos para fazer diferentes peças artísticas, desde roupa a estátuas.

O grupo de criadores envolvidos no projeto encontra-se agora espalhado por vários locais na Europa, devido à Guerra na Ucrânia. “O material é como Lego pode ser transformado em diferentes formas e diferentes tamanhos”, explicou a representante da "Entity", Olga Glinina em conversa com do DN.

©European Union, 2024. "Entity" durante o seu workshop no festival e junto às estruturas de borracha (proveninte de sola de sapatilhas) moldáveis.

Este projeto fez também um workshop durante os quatro dias do festival e deixou os visitantes darem as suas ideias de utilizaçã deste material. “É a nossa primeira exibição durante a guerra e é interessante falar algo sobre nós. Não estamos na Ucrânia e já não pensamos como antes.  Queremos continuar no mundo da arte, do design, mas não sabemos como. Por isso, talvez estar aqui no festival seja o nosso primeiro passo”, mencionou.

Já no auditório do museu, foi exibido o filme The Trojan Women, uma produção conjunta do Teatro Theama, da Grécia, Teatro Grodzki, da Polónia, e do Teatro Gato Escaldado, de Portugal. Este filme é uma adaptação da peça de Eurípides para os dias de hokje focada nos temas de violência de género e a perspetiva da guerra de crianças e mulheres. 

Durante a pandemia o Teatro Gato Escaldado integrou os projetos da Europa Criativa, sendo mais tarde convidado pela companhia de Teatro Theama da Grécia para participar neste filme. 

O filme está dividido em três partes e em três línguas diferentes: polaco, português e grego. A companhia de teatro portuguesa procurou testemunhos reais de “ narrativas de superação a situações tão densas como sobreviver a uma guerra, perder um filho e/ou familiares, abusos de vária ordem, violência”. 

Para a companhia de teatro, a exibição do filme no festival New European Bauhaus significa que o seu trabalho foi valorizado e que tem relevância social. “É sempre muito bom quando alguém reconhece o nosso trabalho e ficamos muito felizes. Muitas vezes, existe o cliché de que em Portugal somos os patinhos feios, depois saímos do país e quando voltamos já todos olham para nós como um cisne. É triste constatar que é mais fácil o nosso trabalho ser reconhecido no estrangeiro. Mas não perdemos a esperança e vamos continuar a fazer o nosso trabalho”, referiu a equipa do Teatro Gato Escaldado  (que não esteve presente no festival),  por e-mail ao DN. The Trojan Women será adaptado para teatro e passará por Portugal, Polónia e Grécia. 

Numa sala de madeira, construída no meio do jardim do Museu  o músico belga Besac Arthur subiu ao palco com a sua harmónica e guitarra, no final do penúltimo dia do evento. Com música inspirada na natureza e culturas variadas, Besac Arthur foi um dos vários artistas que atuaram no festival. “As pessoas estiveram a cantar comigo e gosto de fazer as pessoas cantar. É uma forma de me conectar com o público”,  disse o músico depois da sua atuação em conversa com o DN. 

©European Union, 2024. Besac Arthur durante a sua atuação no festival.

Esta é a segunda vez do músico neste festival. Para Besac Arthur, este evento é muito importante para conhecer diferentes culturas e artistas de outros países. “A seguir a mim atuou uma banda da Eslovénia (Banda Gugutke) que eu não conhecia. Eles tocavam diferentes instrumentos de outros países e para mim foi uma experiência incrível. Aqui neste festival, podemos descobrir vários artistas”, sublinhou. 

O artista belga começou a fazer música, quando em pequeno descobriu uma guitarra no sótão. “Comecei desde cedo a fazer e gravar músicas”, conta, acrescentando que a sua música é influenciada pelas suas viagens, “descobro novas culturas e novos artistas nessas viagens e acabo por misturar a música com eles. E, para mim, cada viagem é uma forma de me conhecer melhor e de me conectar com os outros”. O seu último disco, intitulado Humans, foca-se nessa conexão com pessoas de diferentes origens. Nas suas viagens passou pelo Taiwan, México, Burkina Faso, Canadá, onde gravou músicas com artistas locais em francês e inglês. 

A natureza é outro fator que influência a sua música, explica. A sua música Legitime Défense foi escrita durante o Sharm El Sheikh Summit em 2022, uma conferência do COP27 sobre as alterações climáticas . “Nessa música falo mesmo sobre o planeta e apenas pergunto se esse planeta também pode tomar decisões para se proteger”, explica. 

A próxima edição do festival irá realizar-se em Bruxelas em 2026, em data a anunciar. 

Mariana de Melo Gonçalves, em Bruxelas. 

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