Estreias e dobradinhas...
São as muitas as primeiras vezes nestes Óscares, mas para veteranas como Glenn Close ou Viola Davis a noite é de recordes.
Este ano a estatueta dourada quer novatos. Mais do que nunca, a Academia, cada vez com um maior número de novos membros e uma pluralidade de vozes de todo o mundo, começa a sair dos predicados mais tradicionais. "A primeira vez" é algo que este ano parece ter virado uma pedra de toque. Por exemplo, só este ano um filme totalmente produzido por negros conseguiu ser nomeado para melhor filme, Judas e o Messias Negro, de Shaka King, obra que em Portugal ainda não tem luz verde da Warner para chegar às salas. Isto leva a pensar que o nosso mercado tem problemas em vender cinema afro-americano para o grande público. E mais espantoso é o facto do filme ter pelo menos um Óscar garantido: o de melhor ator secundário para Daniel Kaluuya.
Mas a "primeira vez" mais sonante é a de duas mulheres estarem nomeadas para a melhor realização, Emeral Fennell (Uma Miúda com Potencial) e Chloé Zhao (Nomadland), esta última mais do que favorita. E é bem possível que esta onda do feminino se estenda a outras realizadoras: Pippa Ehrich, a co-realizadora de A Sabedoria do Polvo, deverá também subir ao palco, mesmo com a concorrência de Garrett Bradley em Time, sendo que na corrida do melhor filme estrangeiro surge ainda a sérvia Jamila Zbanic, autora do poderoso Quo Vadis, Aida?, porventura a única obra que pode competir com o favorito Mais uma Rodada, de Thomas Vinterberg.
Esta noite também pode surpreender se pela primeira vez um filme produzido por um ex-presidente dos EUA vencer. Em causa está Crip Camp, documentário da Netflix cujos créditos tem os nomes de Michelle e Barack Obama... Por seu turno, a Roménia (sim, o país que vence constantemente prémios máximos em festivais como Cannes ou Berlim) com Colectiv- Um Caso de Corrupção, pela primeira vez conseguiu chegar aqui. E logo com nomeação dupla...(o filme está nomeado para documentário e filme internacional).
Surpreendentemente, esta cerimónia pode também ter dobradinhas, ainda que pouco prováveis. Leslie Odom, Jr, ator nomeado para melhor secundário no razoável Uma Noite em Miami, está ainda nomeado na categoria de melhor canção, com Speak Now, homenagem a Sam Cooke (aí sim, o Óscar é possível). A própria categoria de melhor partitura musical tem a mesma dupla nomeada duas vezes. São eles Atticus Ross e Trent Reznor - devem vencer por Soul- Uma Aventura com Alma mas também estão nomeados para a musica que fizeram para Mank.
No meio dos factos incríveis destas nomeações está a oitava nomeação de Glenn Close, em Lamento de uma América em Ruínas, neste caso como melhor secundária. A atriz é uma das mais nomeadas da história mas contra si tem uma verdade espantosa: nunca venceu e desta vez não é favorita. Esta campeã das nomeadas foi também com o mesmo papel nomeada para os Razzies, cerimónia que premeia os piores do ano. Não ajuda estar nomeado com um filme medíocre que foi atacado pela maioria dos críticos...
Outro curioso recorde é o de Viola Davis; com a nomeação em Ma Rainey- A Mãe dos Blues, torna-se na atriz afro-americana mais nomeada de sempre, ultrapassando Octavia Spencer, com três nomeações. Davis pode hoje vencer o seu segundo Óscar...
dnot@dn.pt