Eiffel, o coitadinho romântico
Romain Duris é Gustave Eiffel num filme insípido sobre o criador do mais famoso monumento francês.
Aqui está a maior produção francesa do último ano. É um facto, vale o que vale. Pensada para ser o novo Titanic, em termos de blockbuster histórico, Eiffel tem todos os problemas das grandes produções que tentam "fazer à Hollywood", espalhando-se ao comprido no exercício convencional. Era um projeto de longa data: esteve para ser concretizado em 2000 por Luc Besson, com um par de luxo, Gérard Depardieu e Isabelle Adjani, e acaba por chegar ao grande ecrã com a assinatura de Martin Bourboulon, um realizador perfeitamente anónimo em toda a linha criativa. Em vez de Depardieu, temos então Romain Duris, ator de muitas camadas, sem dúvida um dos excelentes intérpretes do atual cinema francês, que neste "filme de prestígio" não é mais do que uma figura de papel ao serviço de um drama de época desgastado.
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Em Eiffel conta-se uma versão romântica ("livremente inspirada em factos reais") da origem da Torre: a sua forma de letra A seria uma referência à grande paixão da juventude de Gustave Eiffel, Adrienne Bourgès, mulher que reaparece no momento em que ele tem de tomar a decisão mais importante da sua carreira de engenheiro... Para além do improvável timing, como é que Bourboulon narra esta história de amor? Com longos flashbacks que intercalam a pose reflexiva do protagonista sentado no atelier, à luz das velas, a desenhar e redesenhar o monumento, enquanto fuma uma cigarrilha. Mais cliché do que isto, impossível.
Ainda se tocam alguns pontos interessantes como a impopularidade de Eiffel nessa Paris do final do século XIX, e mesmo os trabalhos de construção do gigante de ferro de 10.100 toneladas, mas tudo isso é ofuscado por um romantismo trágico maçador, com aquele toque triunfal do herói magoado diante dos aplausos da multidão, e uma banda sonora omnipresente, que é a derradeira prova da escrita bafienta. Coitado do Duris...
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