Cultura
26 maio 2022 às 17h52

Quase 20 anos depois, The Ellen DeGeneres Show sai do ar manchado pela polémica

Durante 19 temporadas, as estrelas de Hollywood e do universo pop competiram por um lugar no sofá de DeGeneres. Mas as denúncias sobre uma "cultura de trabalho tóxica" nos bastidores marcaram os últimos tempos do programa

DN/AFP

Durante quase duas décadas, o programa de televisão de Ellen DeGeneres divertiu os espectadores nos Estados Unidos e combateu estereótipos com uma dose de humor e outra de celebridades.

Contudo, depois de mais de 3.000 episódios, o 'talk show' que competiu com o de Oprah Winfrey chegou ao fim nesta quinta-feira (26), ofuscado por acusações de relações tóxicas no trabalho e de contradizer o seu mantra de "seja simpático [be kind, em inglês]".

"Quando começámos este programa, em 2003, não existiam iPhones nem redes sociais. O casamento entre pessoas do mesmo sexo não era permitido", disse DeGeneres, depois de gravar o último episódio, no mês passado. "Vimos o mundo mudar, às vezes para melhor, e às vezes para pior", acrescentou.

Não há dúvidas de como a cena cultural mudou desde que a comediante se declarou lésbica em 1997, numa entrevista à revista Time, ao mesmo tempo que a sua personagem na série de televisão "Ellen" também o fez.

DeGeneres foi reverenciada como um ícone do movimento LGBTQIA+, mas a sua série acabou cancelada em 1998, face a uma onda de ataques. Cinco anos depois, Ellen reinventou-se como anfitriã de um programa de entrevistas.

"Foi uma sensação, um marco", refere Mary Murphy, professora associada de jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia. "Ela construiu o caminho. Provavelmente foi, e talvez ainda seja, a pessoa LGBTQIA+ mais famosa dos Estados Unidos."

Na despedida, a apresentadora contou com a presença da atriz Jennifer Aniston, que foi a primeira convidado do talk show, e das cantoras Pink e Billie Eilish.

A lista de convidados de DeGeneres, que incluía celebridades de primeira linha, foi crucial para o sucesso do programa, especialmente nas regiões mais conservadoras dos Estados Unidos.

Durante 19 temporadas, as estrelas de Hollywood e do universo pop competiram por um lugar no sofá de DeGeneres, para o qual eram convidados para promover os seus projetos e para serem, às vezes, objeto de piadas e brincadeiras.

Alguns estiveram ali mais de uma dezena de vezes. Jennifer Aniston, a primeira convidada do programa, regressou para o episódio final que é transmitido esta quinta-feira.

"Ela é uma amiga das celebridades. Elas sabem disso, e ela faz tudo de forma jovial", comenta Murphy. "Talvez pelo facto de ela mesma ter sido tão 'queimada', não queria fazer isso com os outros. Não havia armadilhas no programa."

Contudo, os rumores sobre um ambiente menos jovial nos bastidores do programa começaram a ganhar corpo com uma publicação de 2020 no site BuzzFeed, que afirmava que o programa tinha uma "cultura de trabalho tóxica", incluindo casos de assédio sexual, bullying e racismo.

Três produtores foram demitidos, e DeGeneres foi acusada de não ser tão agradável com os funcionários em particular como era em público.

Em maio, a comediante anunciou o fim do programa, mas negou que isso fosse uma consequência dessas acusações. "Preciso de um novo desafio", disse ela à publicação The Hollywood Reporter.

Mas DeGeneres foi alvo de mais polémicas, como quando defendeu o comediante Kevin Hart depois de este ter desistido de apresentar a cerimónia dos Óscares em 2018, após ter publicado uma série de tuítes homofóbicos.

"De repente, ela caiu em desgraça", assinala Murphy. "Ela parecia estar conectada com as celebridades e com o público, mas não com as pessoas que trabalhavam para ela."

(Notícia atualizada às 9h30 de sexta, 27)