Dinu Flamand foi-me apresentado por Gelu Savonea, diretor-adjunto do Instituto Cultural Romeno, em Lisboa, durante um almoço no Cantinho Romeno, na Rua Carlos Mardel. E foi a saborear a cozinha dos chamados "latinos de Leste" (O Cantinho é uma espécie de mercearia especializada, mas por encomenda serve refeições numa salinha) que ouvi, fascinado, a história deste intelectual romeno, que, num dado momento, se apaixonou pela literatura portuguesa a ponto de ter aprendido a língua, mesmo que recorra ao francês quando precisa de uma ou outra palavra para prosseguir a conversa. Da conversa à mesa resultou uma proposta minha de entrevista, um pouco sobre a sua relação com Portugal e figuras como António Lobo Antunes ou Eduardo Lourenço, e esta acabou por acontecer dias depois, nas instalações do Instituto Romeno, perto da Sé, outro cantinho romeno em Lisboa, desta vez não gastronómico mas cultural, recheado de livros de autores tanto latinos do Oriente como latinos do Ocidente. Já com o gravador desligado, fiquei ainda a saber que foi no comboio entre Lisboa e Paris, a ler três livros que Eduardo Lourenço lhe oferecera, que Flamand decidiu pedir asilo político. "Guardo sempre comigo esses três livros essenciais que ele me ofereceu: Heterodoxia, O Labirinto da Saudade e Tempo e Poesia. A leitura deles foi para mim um impulso para agarrar a liberdade."