Cultura
26 março 2023 às 19h19

Agatha Christie é a mais recente vítima de censura

Expressões passíveis de incomodar o leitor estão a ser suprimidas ou alteradas nos romances policiais de Hercule Poirot e de Miss Marple.

Palavras como "nativo" ou "oriental", referências à etnia e tudo o mais que possa ofender "leitores sensíveis" estão a ser varridos para debaixo do tapete do politicamente correto nas reedições dos mistérios de Hercule Poirot e Miss Marple, da autoria de Agatha Christie, noticiou o Telegraph. Os livros publicados pela HarperCollins juntam-se a uma lista cada vez maior de obras literárias amputadas.

Segundo a notícia, foram alvo em especial as novelas em que os protagonistas viajaram para o estrangeiro. Entre os exemplos de purgas citadas pelo jornal inglês está Morte no Nilo. Neste policial de 1937, protagonizado por Poirot, em certa passagem uma personagem queixa-se do incómodo originado por um grupo de crianças: "Elas voltam e olham, e os seus olhos são simplesmente nojentos, assim como os seus narizes, e eu não creio que goste realmente de crianças".

Inaceitável aos olhos dos "leitores sensíveis" - pessoas contratadas pelas editoras para denunciar possíveis conteúdos ofensivos -, ficou como se segue: "Elas voltam e olham, e olham fixamente. E eu não creio que goste realmente de crianças." Outro exemplo: na edição do romance O Mistério das Caraíbas, de 1964, Miss Marple nota que um funcionário do hotel sorri com uns "dentes brancos tão bonitos", uma passagem simplesmente removida.

A tendência para escalavrar o conteúdo dos livros, em desrespeito ao autor e à inteligência dos leitores é tal que não há mês sem notícias sobre o tema.

E quando as palavras não são modificadas, os livros são escondidos. É o que está a acontecer nas bibliotecas públicas de Devon, em Inglaterra, aos livros infanto-juvenis de Enid Blyton. A linguagem da série de aventuras Os Cinco é considerada "desatualizada" e as edições antigas foram removidas para uma área reservada. Os mais de 700 livros de Blyton - acusada de ser xenófoba - começaram a ser alvo de reedições reescritas há mais de uma década.

Livros de Roald Dahl, autor de Charlie e a Fábrica de Chocolate, e de Ian Fleming, criador da série 007, também foram talhados.