Cultura
18 agosto 2022 às 22h40

A Casa dos Dragões - Amesterdão recebeu a nova família real

A HBO Max apresentou a nova série do universo A Guerra dos Tronos, A Casa do Dragão, uma prequela que se assume como um acontecimento no mercado de streaming. O DN esteve presente e falou com os atores desta fantasia medieval que a partir de segunda-feira mostra a história da queda dos Targaryen.

O maior fenómeno de streaming da história foi A Guerra dos Tronos, goste-se ou não. Numa altura em que muitos ainda não estão convencidos com o final, eis que finalmente chega a prequela. Serão dez episódios que todas as semanas chegam à HBO Max a partir da próxima segunda-feira. Passa-se 300 anos antes do começo da primeira temporada dos tronos e acompanha a dinastia dos Targaryen, o reino que controlava os dragões. O DN já viu o primeiro episódio e confirma que se trata de boa ficção televisiva, uma espécie de "mashup" do espírito de Thrones com Sucession, carregando na componente do fatalismo familiar.

Baseado no livro Sangue & Fogo de George R.R. Martin, e com atores como Paddy Considine, Matt Smith, Rhys Ifans ou a revelação Milly Alcock, tem também toda a opulência de produção do blockbuster original, apostando em efeitos visuais topo de gama mas sobretudo numa carga dramática plenamente adulta, não se dispensando cenas sexuais duras, diálogos bem escritos e uma intriga que deixa adivinhar um suspense global acerca desta disputa familiar onde o tema é a corrupção do poder. A narrativa centra-se no rei Viserys, que reina no trono de ferro num mundo em paz. Uma paz que fica ameaçada quando a sua corte começa a pensar na sua eventual sucessão. Os candidatos são muitos mas é o seu irmão Daemon quem parece reunir as condições para ser rei, mesmo tendo em conta o seu grau de narcisismo e gosto pelo sangue. Porém, a filha jovem e pura Rhaenyra é também candidata, mesmo apesar de nunca antes ter havido uma rainha. Tudo se precipita quando a mulher do rei acaba por morrer ao dar à luz o legítimo herdeiro, bebé que passado uns minutos também não sobrevive.

Neste piloto que mostra ao que a série vem percebemos também que nos bastidores da corte há muitas manobras para a obtenção do poder. Ou seja, uma outra guerra dos tronos que é simplesmente o início da queda de uma dinastia. E salta à vista a ação do conselheiro do rei, o lorde Hightower, cuja filha Alicent parece ter também um magnetismo sexual perante o rei, já para não falar dos jogos políticos de Lorde Verarlyon, guerreiro que está casado com a princesa Rhaenyra que em tempos chegou a aspirar ao trono. Independentemente destas sub-intrigas, não faltam ainda cenas de batalhas, traições, violência que não dispensa sangue e uma escala de produção gigante. O luxo desta descrição de um imaginário de fantasia medieval parece ainda mais explícito do que na série original, algo que vem mesmo a calhar, sobretudo quando a rival Amazon tem para estrear a 2 de setembro O Senhor dos Anéis - Os Anéis do Poder, a prequela daquilo que vimos nos filmes de Peter Jackson e, precisamente, a ficção televisiva mais cara de sempre.

Quem estiver à espera de ver já dragões em Monsanto, aldeia beirã que serviu para algumas cenas, terá de esperar. Sara Hess, uma das escritoras desta temporada, garante que só mais para frente vamos ver esta localização portuguesa, mesmo quando nos créditos já apareçam nomes da equipa técnica portuguesa. Ao seu lado, num hotel de Amesterdão também de luxo medieval, Jocelyn Diaz, produtora, garante que as filmagens em Portugal correram muito bem e acrescenta que esta série vai agradar a quem era fã de Guerra dos Tronos: "Não quisemos apagar o que distinguia essa série, mas atenção: esta é uma série completamente diferente. Tem uma linguagem própria".

Mais ao lado, numa sala de baile, a jovem australiana Milly Alcock, que encarna a princesa Rhaenyra na juventude, fala sobre as atribulações do secretismo, mencionando até que não teve acesso ao guião com as cenas em que Emma D"Arcy, a atriz não binária, interpreta a mesma personagem na idade adulta: "O secretismo nas filmagens acabou por ser curtido, éramos os primeiros a saber do destino das personagens! Mas é claro que nunca podíamos tirar fotos de nada. Na verdade, ainda não vi o que filmámos, estou ansiosa!". Em boa verdade, o seu rosto é uma das marcas fortes desta série, uma atriz com um registo diferente. Milly sabe que a partir de segunda-feira deixará de poder andar anónima nas ruas de Londres: "Não estou preparada nem quero pensar muito nisso. Nessa noite da estreia vou estar num hotel em Paris porque estou em tour de promoção. O meu plano é ficar a ver a série e embebedar-me".

DestaquedestaqueQuem estiver à espera de ver já dragões em Monsanto, aldeia beirã que serviu para algumas cenas, terá de esperar. Sara Hess, uma das escritoras desta temporada, garante que só mais para frente.

Steve Toussaint, o guerreiro afro louro Lorde Velaryon, já sem a peruca também nos diz que há diferenças substanciais entre A Guerra dos Tronos e House of The Dragon: "A Guerra dos Tronos era uma série ótima em todos os aspetos. Por isso mesmo, não quisemos fazer igual...Quisemos fazer algo que fosse reconhecível mas ao mesmo tempo novo. Acho que acertámos em cheio". A diversidade também é para aqui chamada...

Sobre a moda de algumas séries se transformarem em cinema, Jocelyn Diaz sossega os puristas: "A HBO tem uma fórmula muito bem conseguida para este universo, é como se estas histórias se pudessem multiplicar infinitamente em episódios... Isto pede muito mais a linguagem das séries em oposição ao cinema! Não há mesmo planos para estender os Tronos ao cinema... Agora estamos preocupados em deixar pronta a temporada 2". Sobre o que acontece depois do décimo episódio, tudo ainda é um tabu, mas pelos corredores da festa, numa sumptuosa sala de congressos no centro de Amesterdão, era muita a confiança para haver luz verde da HBO para a segunda temporada.

O DN apurou que se as audiências destes primeiros episódios forem estrondosas a equipa de Ryan J. Condal tem já tudo assegurado do ponto de vista criativo. Talvez por isso, na parte VIP da discoteca montada era possível encontrar muitos sorrisos entre influencers e atores espanhóis e portugueses convidados pela HBO Max, entre os quais Rita Pereira, fã deste universo e autora de muitas stories no Instagram com os dragões montados nesta festa: "Fiquei muito impressionada com este episódio. Sou muito fã da série original e esta não me desiludiu! Este primeiro episódio está brutal, muito forte!", contou. Menos efusivo estava o ator Diogo Valsassina: "Gostei do que vi, mas vamos ver agora como isto se desenvolve". Pelos aplausos da plateia nesta estreia europeia, dir-se-ia que a química com o público está garantida. A Casa do Dragão não defrauda os fãs dos Thrones, mas também não quer ser uma revolução em matéria de fantasia medieval. Dê por onde der estará sempre condenada à trívia da comparação...

dnot@dn.pt

Qual a prioridade conceptual deste regresso ao mundo de A Guerra dos Tronos dois séculos antes?
Creio que honrámos o tom e o registo de A Guerra dos Tronos. De uma certa forma, o espírito é o mesmo e tentámos filmar de maneira idêntica, embora tentando trazer algo mais específico. Era importante que o espetador não ficasse com a sensação de continuar a ver a mesma coisa. A prioridade estava sobretudo na estética deste mundo, tinha de ser outra coisa, sobretudo porque a ação passa-se dois séculos antes. Curiosamente, essa relação com o passado tinha de parecer novidade. O ideal é que as pessoas se sintam em casa mas com uma sensação diferente. Por exemplo, fomos muito radicais no guarda-roupa. A moda nesse tempo era outra. Tematicamente haverá também uma proximidade com o original. Espero que os fãs, no final, sintam vontade de rever o primeiro episódio de A Guerra dos Tronos. Não sinto que as pessoas vão começar a olhar para a história de maneira diferente mas a experiência será diferente...A perspetiva é outra, antes era tudo lenda! Aqui estamos então a contar a dissolução da dinastia Targeryan. Tem a ver com o ponto de vista.

Está pronto para as inevitáveis comparações?
Já é uma honra fazer parte dessa conversa... A série original é verdadeiramente um marco na história da televisão! O impacto cultural que causou surge uma vez numa geração...Isto agora já não vai ser possível repetir, sobretudo porque o contexto do ambiente das plataformas é outro. Hoje em dia é tão difícil alguma série fazer parte do debate! Sinceramente, a minha esperança é que os espetadores apaixonados de A Guerra dos Tronos nos deem uma oportunidade.

E esses fãs terão a sensação de pertença?
Espero que sim, ainda que não tenhamos a conectividade entre as personagens antigas. Mas há alguns pontos de contacto. Os fãs vão talvez lembrar-se de algumas histórias de que ouviram falar... Alguns objetos também são os mesmos, como o trono de ferro, embora o nosso seja um bocado diferente, indiciando a passagem do tempo. Lá está, é o tal nosso desejo: ser parecido mas depois diferente.

Muda muito quando filmam fora de estúdios em locais reais, como Monsanto, em Portugal?
Monsanto só vamos ver lá mais para a frente. Não foi fácil o acesso, precisávamos do topo dessa aldeia, neste caso as ruínas - vamos ver um lado desta saga que era desconhecido... As pessoas estão habituadas à costa, agora vamos mostrar a área interior dos dragões e dos vulcões. Tivemos de trazer o equipamento por via aérea, foi complicado mas o resultado final compensa. Não podemos fingir todo o tempo com efeitos e interiores, creio que filmar em locais verdadeiros é sempre uma boa ideia. Com A Casa do Dragão quisemos muito ir para os locais mais exóticos e era importante essa escolha! Torna-se fundamental mostrar que estamos mesmo numa paisagem verdadeira, por muito que depois os efeitos visuais aumentem o lado da fantasia. E digitalmente há sempre que eliminar prédios e cabos de energia... A verdade é que o público percebe sempre quando estamos num local real. As cenas de Cornwall, Espanha e Portugal destacam-se das demais, mesmo tendo dado um trabalhão incrível!

Depois de A Guerra dos Tronos falou-se da hipótese de uma sequela, mas acabámos por ter uma prequela. Para si, esta foi a direção ideal?
O George R. R. Martin achou que este caminho tinha maior validade. Continuo a dizer que a ressonância com o original é imensa. A história que aqui contamos mostra como é que esta dinastia caiu... e isso vai dar a A Guerra dos Tronos. Tematicamente, mesmo com 200 anos de intervalo, as histórias estão ligadas.

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