'Botox' para tratar dores de cabeça ou controlar espamos

O 'botox' é normalmente associado ao combate ao envelhecimento, mas esta toxina tem muitas outras vantagens médicas. Ajuda os doentes com problemas neurológicos a controlar os efeitos da doença, mas também quem transpira em excesso saúde.

É a técnica da moda para fazer frente às rugas, mas as suas aplicações vão muito além da estética. A toxina botulínica (vulgarmente conhecida por botox) é usada há mais de 20 anos em diversas especialidades médicas, como a neurologia, a dermatologia ou a oftalmologia. Estudos mais recentes indicam que também tem benefícios no combate às alergias e na urologia (texto ao lado).

José Carvalho, de 69 anos, vai levar a próxima injecção de botox no dia 19. Faz este tratamento desde há dez anos, altura em que lhe foi diagnosticada uma distonia cervical. A toxina bloqueia os impulsos nervosos dos músculos, impedindo-os de contrair.

"Apareceu de repente e foi complicado porque tinha movimentos involuntários e repetidos com o pescoço. Descansar a cabeça na almofada à noite era um desafio", conta o ex-bancário e presidente da Associação Portuguesa de Distonia. Hoje faz o tratamento de três em três meses, uma vez que o botox tem efeito temporário, e garante que os resultados são bons. "Agora quase não se nota que mexo a cabeça."

A aplicação pode ser feita no hospital, gratuitamente, ou no privado, depois da compra da ampola na farmácia, com receita médica, por 257,68 euros. A colocação numa clínica chega aos 200 euros.

"A indicação cosmética é um apêndice", confirma Joaquim Ferreira, neurologista no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. "A toxina botulínica começou por ser desenvolvida como uma arma química, mas depressa se descobriu o seu potencial médico. A indicação nuclear é na neurologia e começámos a usá-la em 1989."

Vinte anos depois, em 2009, foram feitos, em Santa Maria, 1200 tratamentos com botox em doenças neurológicas, como em casos de blefarospasmo (encerramento involuntário das pálpebras), distonias musculares, espasmos hemifaciais, contracturas musculares ou outros problemas resultantes de lesões cerebrais, como AVC.

Mais recente em Portugal é a sua aplicação em doentes com dores de cabeça crónicas. "Ainda não foi aprovada pelo Infarmed, mas é uma alternativa quando nenhuma outro tratamento medicamentoso funciona", garante Joaquim Ferreira, lembrando que só se faz em casos pontuais, em hospitais públicos e por médicos especialistas, uma vez que uma má aplicação pode ser fatal. "A aplicação da toxina é feita na testa e nos músculos da nuca, impedindo a passagem dos estímulos nervosos que provocam dor."

O neurologista Castro Caldas mostra-se mais céptico: "Não é inócuo e não aconselho em casos de dores de cabeça."

Pelo contrário, a utilização do botox reúne a aprovação dos médicos na transpiração excessiva. "Uso esta técnica desde há dez anos com bastante regularidade", diz a dermatologista Vera Monteiro Torres, garantindo que o grau de satisfação dos doentes "é muito grande". "Os cremes nem sempre funcionam e a cirurgia é muito invasiva", explica. "É uma solução pratica e fácil de realizar", concorda Miguel Andrade, da clínica Faccia, onde uma aplicação custa entre 430 e 680 euros. É feita sobretudo nas axilas, mãos e pés. O único senão é ter efeito temporário.

O botox foi a solução que Marília Alves encontrou para acabar com o problema que a incomodava desde os 12 anos. "Transpirava muito das axilas e era muito desagradável. Além do desconforto, era o incómodo em relação aos outros", confessa a massagista, de 26 anos. Agora faz a aplicação de ano a ano, desde há três anos, e não se importa de pagar 600 euros pelo tratamento. "É a opção mais eficaz", conclui.

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