Ciência
15 setembro 2022 às 17h52

Prémio Champalimaud de Visão distingue investigadores pelo tratamento de Doenças da Córnea

Trabalho inovador permitiu ao dois investigadores receberem um valor de 1 milhão de euros.

DN/Lusa

Um investigador neerlandês e outro sueco são os vencedores da edição deste ano do Prémio António Champalimaud de Visão, o maior prémio do mundo da área da visão que este ano distinguiu trabalhos para o tratamento das doenças da córnea. O valor total do prémio é de um milhão de euros.

Gerrit Melles, dos Países Baixos, e Claes Dohlman, da Suécia, receberam esta quinta-feira o prémio numa cerimónia em Lisboa pela investigação e tratamento de doenças da córnea, a camada externa transparente dos olhos, que permitiram evitar a cegueira de milhões de pessoas em todo o mundo.

O Prémio foi criado em 2006 e tem o apoio do programa "2020 - O direito à visão", da Organização Mundial de Saúde. Nos anos ímpares reconhece o trabalho desenvolvido no terreno por instituições na prevenção e combate à cegueira e doenças da visão, e nos anos pares, como este ano, distingue investigações científicas na área da visão. Devido à pandemia de covid-19, esteve interrompido dois anos e foi retomado este ano.

De acordo com a Fundação Champalimaud os dois investigadores distinguidos abriram "novos caminhos na investigação e tratamento de doenças da córnea, devolvendo a visão a milhões de pessoas e impedindo que outras fiquem cegas no futuro".

"As lesões ou distúrbios da córnea são, há muitos anos, uma das principais causas de cegueira em todo o Mundo. Estes dois médicos-cientistas mudaram e aceleraram de forma decisiva o caminho para o tratamento desta doença. Um conhecimento mais aprofundado da camada externa transparente do olho, bem como a possibilidade de garantir uma abordagem melhorada e mais económica à cirurgia e ao transplante da córnea são essenciais para enfrentar este flagelo", diz a Fundação num comunicado.

Gerrit Melles, do "Netherlands Institute for Innovative Ocular Surgery", em Roterdão, desenvolveu novas técnicas de cirurgia da córnea, tornando-as mais simples e seguras.

Como o próprio explicou, em declarações à Lusa, a inovação consiste numa nova abordagem de transplante da córnea. Ou se transplanta toda a córnea ou parte "e o que nós fazemos é seletivamente transplantar parte da córnea e não tocamos no resto".

Essa técnica, usada em Portugal há mais de uma década, permite uma muito mais rápida recuperação dos doentes, com o especialista a dar um exemplo: em vez de um ano de recuperação, o paciente ao fim de três meses poderá estar apto a conduzir um veículo.

No comunicado, a Fundação Champalimaud diz que o trabalho desenvolvido por Gerrit Melles "deu contribuições extraordinárias que transformaram a cirurgia da córnea, dando esperança e qualidade de vida a milhões de pessoas", e a técnica acelerou "enormemente a reabilitação visual" e diminuiu o risco de complicações.

Nas declarações à Lusa o especialista admite que as doenças da córnea são em muitos países, onde a prevenção e tratamento não são fáceis, uma das principais causas de cegueira, e acrescenta que também em muitos países as técnicas que a equipa que lidera desenvolveu melhoraram as cirurgias e simplificaram a recuperação e os cuidados de saúde.

Gerrit Melles fala dos avanços na área da visão, admite novas técnicas no futuro, mas salienta que para já a abordagem que desenvolveu e que agora lhe valeu o prémio procurou tornar as técnicas cirúrgicas mais simples e mais acessíveis para países e pessoas com menos recursos. Mas tem dúvidas em que as doenças da córnea deixem de ser preocupação no futuro. Porque surgem novas doenças, provocadas por novos estilos de vida, porque a população está a envelhecer, e porque "é enorme" o número de pessoas que ainda não têm acesso a cuidados de saúde.