Comissão de trabalhadores acusa Governo de "excesso de optimismo"
A Comissão de trabalhadores do extinto Arsenal do Alfeite, a partir de hoje Arsenal S.A., acusa o Governo de "excesso de optimismo", duvidando "do aumento da produtividade nos estaleiros com os mesmos instrumentos e metade dos trabalhadores".
"Se está tudo igual no que respeita máquinas e materiais, mas contamos agora apenas com metade do pessoal, cerca de 620 trabalhadores, -- que já eram poucos para respondermos às necessidades da Marinha -- como vamos conseguir manter a nossa função essencial?", questionou-se Carlos Godinho, em entrevista à Lusa.
O representante dos trabalhadores lamentou "o brusco corte de pessoal que a passagem do Arsenal a S.A. implicou": "Ficámos, por exemplo, sem capacidade para responder a um novo projecto de navio", ilustrou.
"O gabinete de projectos -- uma das grandes mais-valias do Arsenal por ser o único no país a desempenhar esta função -- ficou reduzido a um terço, sem capacidade de resposta, apenas limitado ao apoio às reparações dos navios da Marinha", acrescentou.
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"Para além disso", disse, "não temos meios de atracagem de navios. Como vão os navios atracar para serem reparados?", questionou-se.
Carlos Godinho descreve o ambiente vivido hoje -- primeiro dia da empresa a funcionar como Arsenal do Alfeite S.A. -- nos estaleiros como "desolador e angustiante": "Havia muito pouca gente nas oficinas. Não estávamos habituados a ser tão poucos", afirmou.
Os trabalhadores estão "com grandes espectativas mas também grandes receios. O processo de adaptação será muito longo, vai ser uma grande batalha", garante.
Em declarações à Lusa, o secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, João Mira Gomes, referiu-se à nova empresa como "uma sociedade bem estruturada, com trabalhadores com melhores condições e com uma perspectiva económica e de desenvolvimento mais risonha".
João Mira Gomes garantiu ainda que "a reestruturação foi pensada (...) para manter a sua missão prioritária, de manutenção e reparação da frota da Marinha de Guerra Portuguesa", salientando que passará a ser possível "ir à procura de outros mercados que não apenas a Marinha de Guerra Portuguesa", concorrendo no mercado da reparação e construção naval.
Para o representante da comissão de trabalhadores, arsenalista com várias décadas de serviço, "será muito difícil fazer, neste cenário, mais do que éramos capazes de fazer", rematou.
A Arsenal do Alfeite S.A. passa a ser tutelada pela Empordef, a "holding" do Estado de indústrias de Defesa.