"Temos de nos entender! Os subsídios têm de dar para todos!"
Entrevista ao realizador António Ferreira durante a rodagem de Pedro & Inês
Que balanço faz após as primeiras semanas de rodagem?
Não têm surgido problemas mas está a ser cansativo. Isto é pesado! Trata-se de um filme muito ambicioso e os nossos meios não são assim tantos. As equipas de produção e de arte são curtas. Ainda assim, estamos a seguir rigorosamente o plano de filmagens. Pessoalmente, estou a adorar. Estamos muito satisfeitos com a qualidade de imagem que estamos a conseguir.
Sente-se um entusiasmo seu no plateau...
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É uma adrenalina muito grande. Difícil é chegar à cama e dormir, fico sempre a pensar ansiosamente no dia seguinte. A cabeça não para.
Este não será um filme histórico, pois não?
Não! As pessoas imaginam Pedro e Inês e pensam logo em "filme histórico". Nós podemos ter esse lado de Idade Média mas temos três tempos e vamos fazer uma mistura de estéticas. Temos muita liberdade. Queremos um filme visualmente muito rico e que o público se envolva na história, sem ser acordado por erros de reconstituição.
Mas pelo tema não terá um valor de certa maneira didático?
Pode atrair os putos, sim, mas putos de alguma idade, pois aqui há sangue e alguma violência. Obviamente que no caso de Pedro e Inês, uma coisa é a verdade que está nas crónicas, outra coisa é o peso da lenda começada por Camões... E a mim interessa-me mais a lenda, aquilo que foi ficando perpetuado no imaginário das pessoas. Eu, sendo de Coimbra, sempre me fartei de ouvir falar desta história. Qualquer café aqui tem algum tipo de alusão, nem que seja o "vinho de Pedro e Inês" ou "o pastel de Pedro e Inês". Quando digo que me quero deslocar de filme histórico é precisamente por isso. Quero fazer um filme contemporâneo e com uma linguagem moderna. Mesmo no passado eles não falam de forma arcaica. Quis trazer a história para um público contemporâneo.
Mas sempre quis filmar esta história de amor?
Não, foi graças a uma prima que estava a fazer um doutoramento sobre o mito inesiano no cinema que descobri A Trança de Inês, de Rosa Lobato Faria. Ela deu-me o livro e disse-me que aquilo daria um filme. Achei espetacular a abordagem da autora e lancei-me! A primeira versão do argumento foi escrita juntamente com a Rosa. Fiquei dez anos com este projeto!
Por viver no Brasil será que é possível um dia fazer um filme inteiramente brasileiro?
A ideia da nossa produtora, Diálogos Atómicos, é essa! Eu e a minha mulher temos no Brasil a produtora e projetos a decorrer, alguns deles já com algum financiamento. Se tudo correr bem, em 2018 estarei por lá a filmar. O meu sonho é poder fazer filmes cá e lá. Outro dos meus sonhos é encurtar os períodos de intervalos de filmagens - estou a fazer filmes de oito em oito anos! Não é propriamente agradável.
Vem do Brasil, onde fazia publicidade, e agora regressa ao cinema português num momento onde há grande agitação entre duas fações de produtores e realizadores. Como vê todo este momento?
No Brasil faço parto da associação de produtores e realizadores de São Paulo e não vejo estas guerrinhas! Aqui está tudo divido em capelinhas e ficamos todos a perder... Temos de nos entender! Isto dos subsídios tem de dar para todos!