27 dezembro 2017 às 00h05

Richie Campbell homenageia a cidade que o viu crescer

Leva o nome de Lisboa, o novo trabalho do cantor português, cada vez mais distante da sonoridade reggae que o deu a conhecer

Miguel Judas

Se Ricardo Dias de Lima Ventura da Costa tivesse vivido noutro sítio, possivelmente nunca se teria ouvido falar de um tal de Richie Campbell. Como já se percebeu, Ricardo e Richie são a mesma pessoa, mas se o primeiro quase ninguém sabe quem é, o segundo é desde há muito uma das maiores estrelas do universo pop rock nacional. Foi um dos primeiros músicos que se deram a conhecer na internet em Portugal e ficou para história, em 2011, quando se tornou o primeiro artista nacional a esgotar uma sala de grande dimensão, o Campo Pequeno, sem pertencer a qualquer editora.

Sete anos se passaram entretanto e muito mudou na vida de Richie Campbell, que desde então já editou dois álbuns de originais e um ao vivo, aos quais se junta agora a mixtape Lisboa, uma espécie de coletânea composta por músicas feitas ao longo dos últimos dois anos, editada apenas em formato digital. O novo trabalho tem um total de 14 temas, alguns deles, como Do You No Wrong ou Heaven, já bastante conhecidas do público, uma vez que foram originalmente lançadas no ano passado como singles, atingindo, respetivamente, a marca de platina e de ouro.

"É um projeto que demorou cerca de dois anos a concretizar e nunca foi pensado como um álbum puro e duro", explica o artista ao DN. "Normalmente demoro cerca de dois meses a gravar um disco, que tem sempre um conceito e uma sonoridade comum. Neste caso isso não acontece, pelo que optei chamar-lhe antes uma mixtape, por me fazer lembrar os tempos de My Path, a minha primeira mixtape, de 2010", sublinha. A maior parte das faixas tiveram produção a cargo de Lhast, um dos mais recentes hit makers do hip hop nacional, que segundo o músico "conseguiu dar uma coesão de disco" a Lisboa. Esta foi também a primeira vez que o próprio Richie Campbell arriscou na produção de "uns três ou quatro" temas. "Construi um estúdio em casa e comecei a experimentar. É algo que me dá muito gozo, porque me permite trabalhar a música de uma forma muito mais completa. Tem sido todo um novo mundo que se abriu para mim", conta.

Quando se deu a conhecer, em 2012, com o álbum de estreia Focused, Richie Campbell assumiu-se como um artista de reggae, o primeiro, a nível nacional, a tornar-se popular junto do grande público, às custas do êxito That"s How We Roll, este estilo de música nascido na Jamaica. Agora, é tempo de enveredar por outros caminhos, mais próximos do dancehall, mas especialmente do R&B, como se comprova no mais recente single de Lisboa, intitulado de Water, feito em parceria com Slow J. "Essa é a outra razão por que chamei este trabalho de mixtape, uma vez que tem um bocadinho de tudo e marca uma altura de transição para mim. Não está ligado a um género musical específico, como tinha acontecido até aqui", sublinha.

Uma mudança de sonoridade que parecer ser para ficar, como faz questão de salientar: "À medida que vamos ficando mais velhos e experientes, compreendemos melhor quem somos e o que queremos. Neste momento posso finalmente dizer que encontrei o som que melhor me define." E nem o facto de se estar afastar do reggae mais tradicional que o tornou famoso parece assustar o artista, atualmente com 31 anos. "É uma evolução natural, porque eu também não sou a mesma pessoa e o mesmo artista de há uns anos." A mudança começou precisamente com os singles Do You No Wrong e Heaven, que tão bem correram, em termos comerciais, durante o ano passado. "Percebi que nunca nada vai soar tão bem como aquilo que realmente me dá gozo fazer."

Ao contrário dos dois registos anteriores, gravados, respetivamente, em Berlim e na Jamaica, os temas incluídos em Lisboa foram quase todos gravados na cidade que lhe dá o nome. Não é essa, no entanto, a razão principal para a escolha do título. De acordo com o seu autor, este funciona mais como "uma homenagem" à cidade que o viu crescer, apesar de morar em Caxias. "Lisboa é uma cidade vibrante a nível musical, como há poucas no mundo. Essa é, aliás, a única explicação para a mistura de estilos que é a minha música. Cresci a ir a festas de reggae e dancehall, a ouvir mornas na rua, afrobeats em discotecas e R&B e hip hop na escola", explica Richie Campbell, justificando também assim o facto de cantar em inglês. "Também tem que ver com isso e não torna a minha música menos lisboeta, muito pelo contrário, até porque nenhum outro local do mundo me possibilitaria a presença desta mistura de estilos no meu dia-a-dia", sustenta.

É toda uma nova etapa a que se abre com Lisboa, na carreira de Richie Campbell, que se apresenta ao vivo no dia 2 de fevereiro, na Altice Arena, em Lisboa, naquele que será um dos seus mais ambiciosos espetáculos em nome próprio. "Por ser o primeiro desta nova fase, este concerto funciona também como a conclusão desta transição que tenho vindo a fazer na minha música." Mas os fãs podem estar descansados: o que ficou para trás não será esquecido. "Vou tocar tudo aquilo que as pessoas querem ouvir", promete.