"Procurei ser fiel à sensação que guardei do meu primeiro verão"
Com O Primeiro Verão, que hoje estreia, Adriano Mendes chamou as atenções na edição de 2014 do IndieLisboa, de onde saiu com o Prémio de Melhor Longa-metragem Portuguesa de Ficção
Realizador, argumentista, compositor da banda sonora, e um dos protagonistas do filme. O que representou para si esta acumulação de funções na primeira longa-metragem?
Foi um desafio enorme, um mergulho de cabeça. Para mim, o cinema surgiu como forma multidisciplinar de me expressar. A pintura, a música, a representação, a arquitetura, interessaram-me primeiro. Só depois descobri o cinema. O Primeiro Verão foi sobretudo um projeto exigente por, simultaneamente, ter que estar à frente e atrás da câmara. Na maior parte do tempo quem esteve atrás da câmara foi o Rui Mendes (produtor), que fazia de stand-in enquanto eu encontrava o ângulo. Depois trocávamos e filmávamos. Esta articulação câmara/representação foi a mais difícil, mas achámos que seria a melhor solução para a viabilidade do projeto em termos de agilidade e custos. Além disso, o facto de eu e a Anabela Caetano (protagonista) confiarmos muito um no outro e de nos conhecermos bem, contribuiu para explorar zonas emocionais complexas e por vezes difíceis de comunicar.
Sendo um primeiro trabalho, como surgiu a ideia do argumento e o projeto em si?
Quando terminei a Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), senti uma enorme vontade de criar um projeto e libertar-me das metodologias apreendidas. Peguei em pequenas histórias que tinha guardado ao longo dos últimos três anos e comecei a organizar por temas. Então percebi que a maior parte se relacionavam com a ideia de conhecer uma pessoa, de nos apaixonarmos por ela, e isso revelou-se o mais importante. A partir do momento em que surgiu o esqueleto do argumento, avançámos para as filmagens, antes mesmo de "financiamentos", "produção", "calendário", "cronograma", palavras de que eu queria afastar-me, porque amolecem a energia de querer filmar. O Rui Mendes, a cargo da produção, arriscou por acreditar muito num projeto de tipo colaboracionista e autofinanciado... Depois, para além da pulsão, tinha a urgência de assistir à juventude dos protagonistas, à arquitetura e paisagens da Sertã, tal e qual como estavam. Não quisemos esperar. Gostava de poder continuar a fazer cinema com dinheiro para comer e pagar as despesas.