Os festivais que vão fazer este verão
Está oficialmente aberta a época dos festivais de música. Veja o roteiro.
Já lá vão 50 anos desde que Vilar de Mouros recebeu aquele que ficaria na história como o primeiro festival de música em Portugal. Organizado por António Barge, um médico da terra, viria nos anos seguintes a alargar o espetro a estilos como o fado ou a música erudita, mas seria preciso esperar até 1971 para que o rock se começasse finalmente a ouvir na pacata aldeia minhota. Assistiu-se então a algo nunca visto: um festival que quebrou por completo com os cânones vigentes da ditadura, ao reunir mais de 30 mil pessoas, vindas de toda a Europa, no "Woodstock português", como ficou conhecido.
Os dias de liberdade que então se viveram, ao som de Elton John ou Manfred Mann, marcariam toda uma geração, influenciada pela cultura hippie, até então amordaçada pela moral do regime. Ainda sob a batuta de António Barge, o Vilar de Mouros voltaria dez anos depois, trazendo até ao Minho nomes como U2, The Stranglers ou Carlos Paredes, perpetuando para sempre o nome do festival, regressado entre 1996 e 2006, já sob moldes mais comerciais. "É este legado que pretendemos reavivar", afirma Diogo Marques, da Surprise & Expectation, a empresa responsável pela edição deste ano, a ter lugar entre 25 e 27 de agosto.
A aposta recai num cartaz composto por muitos dos nomes que ajudaram a criar esta história, como Echo and the Bunnyman, Tindersticks ou Peter Murphy. "Trata-se de um festival direcionado para um público mais maduro e nesse sentido estamos a dar um enfoque especial nas questões do conforto. O campismo terá uma área de glamping e a zona de restauração terá serviço de mesa e a presença de alguns dos melhores restaurantes da região", salienta Diogo, que recuperou ainda o "palco histórico" onde em 1982 tocaram os U2, transformado agora numa "zona de acesso gratuito", com concertos e projeção de filmes. "Queremos festejar os 50 anos do festival com um evento à altura da sua história, mas também consolidá-lo como uma referência", sustenta o promotor.
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Aquando da segunda edição do Rock in Rio, em 2008, um estudo realizado pela organização do festival, estimava que o impacto do mesmo na cidade de Lisboa ascendia já na altura aos 60 milhões de euros. No ano passado, o Nos Alive reuniu à beira Tejo, em Algés, mais de 150 mil espetadores em três dias de concertos, dez por cento dos quais oriundos de cerca de 50 países diferentes. Não é de admirar, portanto, que próprio Turismo de Portugal já fale do país como um "destino de eleição" para os fãs de música ao vivo. Nem que a cada ano surjam cada vez mais festivais.
É o caso do MIMO, há 13 anos uma referência no panorama cultural brasileiro, que tem lugar em igrejas, monumentos, parques e outros espaços públicos de diversas cidades históricas do Brasil, como Olinda, Paraty, Ouro Preto, Tiradentes ou Rio de Janeiro. Um conceito que será, pela primeira vez, replicado fora do Brasil, na cidade portuguesa de Amarante, onde, de 15 a 17 de julho, terão lugar mais de três dezenas de concertos, de entrada gratuita, entre os quais se destacam os músicos de jazz norte-americanos Pat Metheny & Ron Carter, o pai do movimento tropicalista Tom Zé, o guitarrista maliano Vieux Farka Touré ou o mestre da guitarra portuguesa Custódio Castelo. "Portugal foi uma decisão óbvia, a escolha de Amarante é que foi a surpresa", confessa ao DN a diretora do festival, Lu Araújo. "Num primeiro momento pensámos no Porto e já estávamos em negociações quando um amigo de Amarante me desafiou a conhecer a cidade. Adorei e fui muito bem recebida pela Câmara Municipal, que também andava em busca de um festival assim para promover a cidade", sublinhou a responsável.
O valor da "carolice"
Foi também a música a colocar no mapa a pequena aldeia de Cem Soldos, nos arredores de Tomar, onde desde 2006 se realiza o Bons Sons, um festival inteiramente dedicado à música portuguesa, e que depressa se afirmou como uma alternativa aos demais festivais de Verão. "Um festival só com programação nacional, feito numa aldeia por uma associação local? Éramos um evento algo bizarro, quando começámos", reconhece o seu diretor, Luís Ferreira. Mas foi exatamente isso que tornou o Bons Sons numa história de sucesso. "Há uma vivência real da aldeia, não encenada, que desde o início nos fez acreditar no projeto. Temos algo de verdadeiro a oferecer, que vai muito para além de alguns concertos e umas cervejas", defende. Ao todo, são oito os palcos distribuídos pelas ruas da aldeia, a funcionar numa "lógica de festa e descoberta", os dois princípios básicos por trás da escolha do cartaz. "O objetivo é o de mostrar o presente da música portuguesa, como se fosse uma fotografia desse momento", diz Luís, que também assume as funções de programador. E aqui não há qualquer tipo de barreiras estéticas, como mais uma vez se comprova pelo cartaz deste ano, que entre 12 e 15 de agosto junta nomes tão diferentes como Jorge Palma, Carminho, Deolinda, Sensible Soccers, Da Chick, Lula Pena, Pega Monstro, Branko, Tocha Pestana, Tim Tim por Tim Tum, Flak ou Joana Sá, entre muitos outros. "Misturamos projetos consagrados com os mais embrionários, porque o único critério que conta é a qualidade e a novidade", explica Luís. "Nestes últimos anos já conseguimos ter bilhetes vendidos mesmo antes de anunciar o cartaz. É uma das nossas maiores vitórias, porque vivemos só da carolice, não temos nenhuma máquina de promoção por trás", acrescenta.
É também este o espírito que norteia o MUSA, o único festival nacional dedicado em exclusivo ao reggae e que volta a ter a praia de Carcavelos, na linha da Cascais, como cenário, de 30 de junho a 2 de julho. A cumprir este ano a sua 18ª edição, desde o início que o MUSA tem apostado num conceito que junta música com ecologia, valendo-lhe o reconhecimento como "Festival mais Sustentável" no Portugal Festival Awards. "O nosso trabalho é baseado no voluntariado", sublinha Pedro Guilherme, um dos responsáveis pela Criativa, uma associação local sem fins lucrativos, que existe apenas para fazer o festival, revertendo as receitas para a edição do ano seguinte. "Temos crescido à nossa medida, no ano passado tivemos a nossa melhor edição de sempre e já fazemos parte da rota internacional dos grandes artistas de reggae".
Em ano da maioridade voltam a apresentar um verdadeiro alinhamento de luxo, com a presença de alguns dos maiores nomes mundiais deste estilo musical, como o italiano Alborosie, os franceses Dub Inc. ou o veterano artista jamaicano Max Romeo. "Já tivemos propostas para vendermos o festival, mas recusámos sempre, porque o MUSA já não é só nosso, é de Carcavelos".
ROTEIRO:
30 junho - 2 julho
Loulé
30 junho - 2 julho
Cascais
1 julho
Lisboa
7 - 9 julho
Lisboa
8 - 9 julho/ 15 - 16 julho
Mora
8 - 10 julho
Figueira da Foz
12 - 27 julho
Oeiras
14- 16 julho
Lisboa
15 - 17 julho
Amarante
14 - 16 julho
Vila Nova de Gaia
21 - 24 julho
Barcelos
22 - 23 julho
Torre de Moncorvo
22 - 30 julho
FMM - Festival Músicas do Mundo
Sines
22 - 23 julho
Funchal (Madeira)
29 - 30 julho
Ponte da Barca
1 - 7 agosto
Castelo de Vide
3 - 7 agosto
Zambujeira do Mar
4 - 6 agosto
Viana do Castelo
4 - 14 agosto
Lisboa
5 - 6 agosto
Seixal
11 - 14 de agosto
Costa da Caparica
12 - 13 agosto
Moledo
12 - 15 agosto
Cem Soldos (Tomar)
12 - 14 gosto
Ribeira Grande (Açores)
13 - 14 agosto
Vagos (Aveiro)
17 - 20 agosto
Paredes de Coura
20 - 21 agosto
Porto
24 - 27 de agosto
Crato
25 - 27 agosto
Montemor-o-Velho
25 - 27 de agosto
Vilar de Mouros
2 - 4 setembro
Atalaia
8 - 10 setembro
Cartaxo
9 - 11 setembro
Lisboa
10 setembro
Lisboa