"O homem já trabalhou para mim. Acho que não gosta de mim"
O empresário Joe Berardo admitiu hoje que o secretário de Estado da Cultura tem uma questão pessoal contra ele e declarou que, se Francisco José Viegas continuar na pasta até 2016, a cultura em Portugal "desaparece toda".
"O homem [Francisco José Viegas] já trabalhou para mim, ele era diretor da Gazeta dos Desportos, e eu acho que ele não gosta de mim, pronto, paciência", disse Joe Berardo.
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O colecionador de arte reagia assim às declarações do secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, na terça-feira, no Parlamento, em que defendeu o fim das entradas gratuitas no Museu Coleção Berardo, instalado num dos módulos do Centro Cultural de Belém (CCB) desde 2007.
Para o governante, há necessidade de controlar o número de visitantes do Museu Berardo e de "ganhar algum dinheiro com isso".
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Berardo confessou-se "muito triste", sublinhando não perceber "como é possível" que "uma pessoa individual" faça "aquelas coisas no Parlamento", quando aquelas decisões pertencem "ao conselho de administração".
"Não sei como é que ele pode dizer que em 2016 [o Estado não vai comprar a coleção]. Será que ele vai ficar até 2016? A cultura desaparece toda. Eu acho que este Governo tem de reanalisar a parte cultural", afirmou.
Joe Berardo lembrou ainda que "nunca disse que eles tinham de comprar a coleção", sublinhando apenas que o Estado tem o direito de compra, conforme "a exigência" feita pelo Governo.
Na terça-feira, perante os deputados da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República, Francisco José Viegas afirmou ainda que o Governo gastou "26 milhões de euros com o Museu" e que isso "é mais do que suficiente para construir uma marca - a marca Berardo".
"Nunca precisei do Governo para me promover. Os portugueses é que precisam da coleção para promover os artistas portugueses e a sociedade portuguesa", respondeu Joe Berardo.
O colecionador disse ainda que vai analisar devidamente as declarações do SEC e dar uma resposta em breve, "doa a quem doer".
Na audição parlamentar, Francisco José Viegas reiterou que o governo não pretende exercer o direito de compra da coleção, avaliada pela Christie's em 316 milhões de euros em 2006, "nem agora, nem em 2016, e muito menos pelo dinheiro que Joe Berardo pede".
No início de março, o colecionador admitiu à Agência Lusa "ter tido várias propostas de museus e de outras instituições para vender" a coleção, adiantando desde logo que tal não se verificaria, porque "a coleção não está à venda" e "há um acordo de dez anos para cumprir".
Nos termos deste acordo, o Estado português pode exercer o direito de compra da coleção pelo valor da avaliação efetuada pela Christie's, a qualquer momento, até 2016.
Esse acordo, assinado em 2006, enquadrava a criação do museu com uma seleção de 862 peças de arte moderna e contemporânea da coleção do empresário.
"O Estado não deve um cêntimo a Joe Berardo e, ao contrário do que tem sido dito, até temos apoiado financeiramente algumas coisas fora do acordo, como a exposição comemorativa dedicada a Nikias Skapinakis", que deverá ser inaugurada no final deste mês.
Em novembro do ano passado, o Museu Berardo contabilizou um total de três milhões de visitantes desde a data da inauguração, em junho de 2007.