Luís Miguel Cintra sobre Oliveira: "Criava uma família em cada filme"
O ator Luís Miguel Cintra, que participou em vários filmes do Manoel de Oliveira lembrou hoje que a primeira coisa que o realizador fazia quando iniciava a rodagem de um filme era "criar uma família".
O ator Luís Miguel Cintra, que participou em vários filmes do Manoel de Oliveira, falecido na quinta-feira, lembrou hoje que a primeira coisa que o realizador fazia quando iniciava a rodagem de um filme era "criar uma família".
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"Nunca teve grandes conversas muito elaboradas, nem intelectuais sobre nada do que estava a fazer, isso faz parte do segredo do que se estava a fazer em comum. Esperava que houvesse uma corrente subterrânea de entendimento entre as pessoas, que se estabelecia através de coisas muito simples, como comer à mesma mesa, falar da saúde das pessoas, perguntar como estava o pai, como estava a mãe, (...), com todos os membros da equipa", recordou.
Conversas "não eram apenas com os atores, com as primeiras figuras ou com as segundas, era com o eletricista ou fosse com quem fosse. Isto criava uma espécie de família, sobretudo, pela presença da mulher de Manoel de Oliveira que o acompanhou sempre em todas as filmagens, da maneira mais comovente possível, interferindo e ele deixando que ela interferisse, numa atmosfera fora de todas as regras, porque ele vivia assim", contou ainda Luís Miguel Cintra.
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"Era simples e, sobretudo, muito direto. Nem tudo são rosas, não é?", questionou o ator, recordando uma ocasião em que Manoel de Oliveira lhe chamou a atenção por não ter dado o seu melhor no filme que tinham acabado de rodar.
Luís Miguel Cintra falava aos jornalistas à entrada da Igreja de Cristo Rei, no Porto, onde se realizarão, a partir das 15:00 as cerimónias fúnebres, seguindo depois para o cemitério de Agramonte.
Também o constitucionalista e ex-governador civil de Braga, Pedro Bacelar Vasconcelos, passou esta manhã pela igreja do Cristo Rei, no Porto, tendo transmitido aos jornalistas estar ali "em nome pessoal" e a "a pedido" de António Costa para transmitir uma mensagem à família de Manoel de Oliveira.
"Vim transmitir uma mensagem de profunda consternação pessoal que António Costa me solicitou que transmitisse à família e a consciência da perda física deste vulto que vai com certeza continuar a acompanhar-nos", referiu.
Manoel Cândido Pinto de Oliveira, nascido a 11 de dezembro de 1908, no Porto, era o mais velho realizador do mundo em atividade.
O último filme do cineasta foi a curta-metragem "O velho do Restelo", "uma reflexão sobre a Humanidade", estreada em dezembro passado, por ocasião do 106º aniversário.