Madeira considera descabida homenagem ao poeta
A Direção Regional dos Assuntos Culturais considerou hoje "descabida" a organização de uma homenagem oficial a Herberto Helder, que nasceu na Madeira e morreu esta segunda-feira, aos 84 anos, afirmando que o poeta está além do "circo mediático".
"Face ao autor que é e aquela que foi a sua visão das coisas, qualquer ação dessas é completamente descabida", disse à Lusa o diretor regional, João Henrique Silva, vincando que a obra de Herberto Helder "está muito para além do folclore e do circo mediático que hoje tomou conta do mundo literário e do mundo artístico em geral".
João Henrique Silva realçou que Herberto Helder "fugiu completamente dessa feira de vaidades", tendo criado para si próprio um "clima de clausura e de refúgio como fronteira para não ser aprisionado e não ser raptado pelas convenções do mundo mediático-literário, tal como o conhecemos hoje".
Considerado um dos maiores poetas portugueses, Herberto Helder deu a sua última entrevista em 1968 e recusou o Prémio Pessoa na década de noventa, rejeitando quase sempre o mediatismo literário.
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O diretor dos Assuntos Culturais salientou que a sua obra, não sendo de leitura fácil e imediata, revela, porém, uma "enorme dimensão", tendo ultrapassado a geografia e os condicionalismos do lugar onde o poeta nasceu, para se tornar "universal, partilhada e partilhável" por uma comunidade de leitores cada vez maior.
"Ao Herberto certamente lhe bastava os referentes e as referências da criação poética e do seu universo pessoal - porque ele tem um universo muito próprio enquanto autor - e é neste contexto que se compreende como incontornável a sua relação com a ilha", disse João Henrique Silva, salientando que, no seu caso, a expressão "madeirense" [poeta madeirense] não deve ser encarada como adjetivo, mas no sentido da relação criadora com as origens.
"A poesia de Herberto Helder não se entende sem compreender que ele é um poeta nascido na ilha e grande parte das metáforas e dos símbolos que atravessam toda a sua poesia têm de ser lidas na sua relação com a criação originária", disse, sublinhando o peso da ilha enquanto "expressão de grande violência telúrica".
"O Herberto é um poeta de enorme dimensão em termos da língua portuguesa. É um poeta universal. Em termos da sua criação literária está muito para além da ilha e da própria nação portuguesa. É um poeta que, pela enorme beleza, profundidade e alcance dos seus textos se tornou universal", declarou João Henrique Silva.
Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de novembro de 1930, no Funchal, ilha da Madeira, no seio de uma família de origem judaica. Morreu esta segunda-feira na sua casa em Cascais.
A "Morte sem Mestre" foi o último livro do poeta, publicado pela Porto Editora em junho de 2014.
Na rua da Carreira, no Funchal, existe uma placa que assinala a casa onde nasceu.