Kurt Wagner: "É divertido cantar esta nova música"
Os Lambchop mudaram. Juntaram eletrónica à voz de barítono de Kurt Wagner e o resultado é o álbum FLOTUS, que a banda norte-americana apresenta amanhã em Lisboa
Na capa do disco está a mulher de Wagner, presidente do partido democrata do Tennessee com a mão de Obama no ombro. A conversa, via e-mail, com Kurt Wagner levou por estes e por outros caminhos.
Os Lambchop vão começar 2017 com um concerto em Lisboa?
Sim, é verdade! Faz todo o sentido porque este novo disco começou em Portugal, em Vila do Conde. Tocámos uma versão inicial de Hustle, adaptada ao filme The Dockworkers Dream [O Sonho do Estivador], numa colaboração com o grande cineasta Bill Morrison. O festival Curtas de Vila do Conde e Mário Micaelo [diretor do festival] encomendaram o trabalho e a música foi o início do processo de gravação do nosso novo disco, FLOTUS. É como trazê-lo de regresso a casa, por assim dizer.
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Esteve a cantar histórias em Lisboa em 2015 no Cinema São Jorge. Lembra-se? O que guarda de cada concerto?
Foi um grande concerto e lembro-me de que o meu telefone morreu nesse dia. Também que o condutor da nossa carrinha teve de pagar uma multa por conduzir acima do limite de velocidade. Bela sala, belo público.
O novo álbum, FLOTUS, tem sonoridades bem diferentes das que costumavam produzir. Há um antes de FLOTUS (AF) e um depois de FLOTUS (DF)?
Não, para mim é tudo o seguimento de uma ideia chamada Lambchop, e vista dessa forma parece-me perfeitamente lógico.
Quais são as influências deste trabalho?
Há algumas novas influências neste disco. A produção de música hip hop mainstream fora da Califórnia é uma delas, assim como a música da minha vizinhança e a música que oiço nas lojas e nos carros. Mas também a ótima música de dança e eletrónica. E Bob Dylan, claro.
Hustle, o primeiro single de FLOTUS, parece um tema de trance. Concorda? Sente-se diferente a cantar uma música tão eletrónica?
Agrada-me que sinta uma vibração trance. É divertido cantar esta nova música. É realmente uma oportunidade de cantar como um instrumento tanto quanto uma forma de passar informação.
Quem é a mulher na capa do álbum? É a sua mulher? Disse numa entrevista que ela não gostou muito desta música, que fez a pensar nela...
Sim, é a minha mulher com a mão do presidente Obama no ombro. É verdade que ela ficou muito perturbada na fase inicial da produção do disco, mas depois ficou totalmente envolvida com o resultado da música que produzimos.
Discute política com a sua mulher, Mary Mancini, presidente do Partido Democrata do Tennessee?
Sim, todos os dias, é a vida dela e por isso é a minha também. Posso dizer que estou quase tão informado como ela, mas também tenho a perspetiva das pessoas e é bom poder partilhá-lo.
E música? Ela é uma boa crítica?
Ela tem aquilo a que se chama "ouvido de loja de discos", que é uma forma de descrever alguém que ouve muita música nova e é capaz de encontrar coisas que a ligam de uma forma muito pessoal. [Mary Mancini foi proprietária de uma loja de discos durante sete anos.]
E os fãs? Como reagiram a estes novos Lambchop? Bem, são uns novos Lambchop?
Eles parecem achar que continua a ser Lambchop e que continua a ser algo para fazer parte das vidas deles. Claro que não posso falar por todos, nem devo, mas se há de facto ali alguma beleza, as pessoas que realmente gostam do que fazemos vão vê-la.
Procuram um novo público?
Estou à procura de uma qualquer audiência, não tenho por garantido que uma única pessoa ache que aquilo que fazemos é digno da sua atenção e afeto. Ter tantas pessoas como temos só nos faz querer fazer mais e melhor, o melhor que conseguirmos de cada vez.
Espera que dancemos sozinhos ao som de FLOTUS depois de termos dançado agarrados aos nossos amantes nos álbuns anteriores dos Lambchop?
Não, mas podes sempre dançar como quiseres. Acho que há espaço para as duas coisas, sempre.
Lisboa, 17 de janeiro de 2017. O que trazem na bagagem musical?
Três camisolas, dois pares de calças, um processador de voz e a coragem das nossas convicções. Vai ser uma bela noite. Teremos também Andy Stack, dos Wye Oak, a tocar connosco.
Li que a playlist do seu vizinho de há 20 anos o inspirou. Mas quando acabaram o álbum ele tinha-se mudado porque a gentrificação se tornou um problema em Nashville. Tenciona cantá-lo?
Creio que, de certa maneira, é exatamente o que os Lambchop têm feito desde o início. Nós somos representativos do local onde vivemos. A cidade mudou e nós também mudámos com ela.
Sabe que em Lisboa os vizinhos também se estão a mudar. Como se sente em relação às cidades em mudança?
Penso que isso acontece desde que as cidades começaram. Parece-nos mais acelerado porque essa é a nossa cultura hoje, é assim que as coisas avançam. Às vezes só queres estar fora desse caminho, mas as coisas acabam sempre por vir ter contigo.
Informação útil
Amanhã, terça-feira
Teatro Maria Matos, Lisboa, às 22.00
Bilhetes a 14 euros
Quarta-feira, dia 18, Auditório de Espinho, 21.30
Bilhetes a 12 euros