Jardim do Palácio Baldaia abre ao público no 25 de Abril

Edifício setecentista vai ser biblioteca e espaço de trabalho. O jardim abre amanhã com um concerto de Paulo de Carvalho
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"Benfica tem tudo, só lhe falta glamour." Ricardo Marques, vogal de Educação, Formação e Eventos públicos da junta de freguesia, cita de cor o título que leu na imprensa há uma mão-cheia de anos, a propósito da (aparente) falta de história do bairro. Neste mandato, a direção, liderada por Inês Drummond, quis quebrar esse mito urbano. E a reabilitação do Palácio Baldaia, na Estrada de Benfica, é um dos passos. Em setembro abre em pleno, amanhã, assinalando o 25 de Abril, inaugura-se o jardim, com concertos da Orquestra Geração (15.00), Novas Vozes de Abril (17.00) e, finalmente, do intérprete da canção-senha E depois do Adeus. Paulo de Carvalho sobe ao palco às 18.00.

O palco do jardim Baldaia é a antiga plataforma das máquinas de ar condicionado, com um deck de madeira. Há árvores centenárias por aqui e o vogal da junta de freguesia chama a atenção para dois arbustos que, mercê das muitas podas a que foram sujeitos, "são como bonsais". Chamam-se Euohymus japonicus, explica o engenheiro agrónomo do projeto, Flávio Barros. Defende que sejam classificados como arbustos de interesse público.

Os dois lagos do jardim vão estar a funcionar, com carpas e tartarugas, e um caminho de calçada emoldura a entrada na casa. Respeitaram-se os canteiros que já existiam, delimitados por aço corten. Brita espalhada desenha os caminhos. Terá entre cinco e dez centímetros de altura, o suficiente para ser confortável pisá-la, explicam os responsáveis da obra. Ricardo Marques conta que defendeu a relva, "mas este é um jardim sombrio, seria uma manutenção morosa". Além disso, justifica, "é um jardim de fruição".
Por esta altura, impõe-se contar a história da casa. Maria Joana Baldaia foi a primeira proprietária, no século XVIII. O palácio chegou a ser um hotel, detalha Ricardo Marques, a partir da escassa informação que existe. "Alguns apontamentos interiores serão, aliás, da época em que o palácio funcionou como Hotel Mafra." Será desse tempo a escultura de bronze que está na escadaria. Duas outras, agora em restauro, estavam no jardim.

Ricardo Marques continua a história. "[O palácio] aparecia referido ainda no século XIX já não como Hotel Mafra, mas como hospedaria. Passa por várias mãos durante 20 anos, e em 1913 passa para o INIAV [Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária]. Entram oficialmente em 1918", conta, e acrescenta: "Muito do que vemos aqui são intervenções para vir para cá o laboratório."
O Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV), que saiu já em 2017 e cujo nome ainda está numa das entradas, foi construindo anexos. O seu destino é serem demolidos, o terreno loteado e vendido para construção. Estão previstas duas torres de habitação e um jardim público ao centro. Ricardo Marques espera que se preservem "as muitas espécies e árvores que aqui existem e que dão alguma particularidade ao recinto".

"É um jardim praticamente do mundo", diz Flávio Barros. "Porque os investigadores iam para a Guiné, Angola... traziam espécies com eles, foram plantando, a coisa deu certo", explica, apoiado nas leituras que fez enquanto estudou o projeto.

Uma das grandes mudanças que se verão neste edifício é a alteração da entrada. A atual só tem metro e meio de passeio. Na segunda-feira, a junta de freguesia propôs à detentora da propriedade, a Estamo, a abertura de uma porta lateral, que melhorará as acessibilidades e combina com a futura requalificação do largo do chafariz, ao lado.

No exterior, enquanto Ricardo Marques convida um freguês a conhecer o jardim no dia 25, e outro espreita as obras pela janela, a arquiteta que assina o projeto, Catarina Subtil, explica que "a ideia sempre foi levar o edifício para a rua e a rua para o edifício, fazendo ligação com o jardim que esteve fechado durante cem anos".

A obra completa deverá custar cerca de 400 mil euros e o prazo de conclusão está apontado para setembro, com a abertura de 16 espaços de cowork (trabalho partilhado) nas águas-furtadas do edifício. Para ser ocupada é preciso lançar concursos. Podem ser espaços para criativos da áreas dos jogos, startups, mas o programa ainda não está fechado, segundo o dirigente da junta de freguesia.
Só ficará a faltar a recuperação da antiga estufa do laboratório e da sua mesa de multiplicação de plantas. Um orquidário e lugar de produção própria para a freguesia, segundo Flávio Barros; em ferro forjado, como as da estufa fria, segundo Ricardo Marques.

Já em julho, abrem a cafetaria, a sede do Qualifica e a biblioteca (recheada com uma doação de 13 mil livros do Sindicato dos Seguros e outra, de 18 mil, do Diário de Notícias) e várias salas multifunções. A arquiteta explica: "A ideia é tornar o edifício muito versátil, que possa ser o que se quiser e o que for preciso."

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