A matéria e as palavrasdos sonhos

Quando o American Film Institute estabeleceu a lista das "maiores estrelas masculinas de todos os tempos", encabeçada por Humphrey Bogart, propôs também as cem melhores linhas de diálogo da história do cinema americano (atribuindo o primeiro lugar ao lendário "Frankly, my dear, I don't give a damn", dito por Clark Gable a Vivien Leigh, no final de E Tudo o Vento Levou). Curiosamente, Bogart surgiu como o actor da lista com mais citações: quatro de Casablanca (incluindo o desabafo, "Louis, acho que isto é o princípio de uma bela amizade", partilhado com Claude Rains) e uma quinta citação, também muito célebre, de Relíquia Macabra, condensando a trágica sedução do dinheiro e do ouro como "a matéria de que são feitos os sonhos". Uma lista deste género é um jogo atraente, envolvendo sempre alguma margem de arbitrariedade. Em todo o caso, não terá sido por mero capricho que Bogart obteve tão grande destaque. Ele foi, de facto, uma presença cuja estranheza e atracção são indissociáveis de uma voz rara, carregada de emoções discretas, distantes, sempre intensas. Além da sua imagem, nunca esquecemos a aspereza das suas palavras - no seu caso, essa aspereza é também uma forma de poesia.

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