02 setembro 2015 às 00h01

Campos de trabalho forçado erguem a ilha da Felicidade em Abu Dhabi

Cobrança de taxas de recrutamento ilegais e salários muito mais baixos do que o prometido: eis as condições laborais dos que estão a fazer da ilha Saadiyat a casa dos novos Louvre e Guggenheim

Mariana Pereira

"Um trabalhador palestiniano anónimo morreu dentro do Louvre Abu Dhabi enquanto os trabalhadores montavam laboriosamente a última "estrela" na cúpula desenhada por Jean Nouvel." Foi a 8 de junho de 2015 na ilha Saadiyat - a 500 km da costa de Abu Dhabi -,diz ainda o relatório apresentado na Bienal de Veneza pela Gulf Labor Coalition (GLC). São um grupo de artistas e académicos que há cinco anos denuncia as condições laborais dos trabalhadores que constroem essa ilha, outrora deserta, e agora progressivamente transformada numa espécie de oásis da cultura e do luxo.

Esse trabalhador "não foi o primeiro, e provavelmente não será o último", escrevem ainda os que, convidados a participar na Bienal, preferiram apresentar um relatório sobre como vivem aqueles que constroem as moradas da arte e da cultura a contribuir com uma peça ou instalação artística.

Anunciada em 2007 com um orçamento inicial de quase 25 mil milhões de euros, essa ilha cujo nome significa "felicidade" verá entre-tanto terminada a construção do Louvre Abu Dhabi, concebido por Jean Nouvel, galardoado com o Pritzker (tido como o Nobel da Arquitetura) em 2008. Seguir-se-á o Guggenheim Abu Dhabi, desenhado por Frank Gehry, Pritzker de 1989. O Centro de Artes Performativas será assinado pela iraquiana Zaha Hadid (Pritzker de 2004), e Norman Foster (que recebeu o mesmo galardão em 1999) projetou um museu da história e cultura dos Emirados Árabes Unidos, que tem o nome do chefe de Estado do país, xeque Zayed (al-Nahyan).

O British Museum já está a emprestar "artefactos históricos" ao novo museu nacional, diz o relatório da GLC, tal como o Louvre francês fará durante o primeiro ano de existência do Louvre Abu Dhabi. Um polo da Universidade de Nova Iorque, uma das maiores universidades privadas dos EUA, também faz parte dessa nova ilha cujo site oficial afirma que a construção conta já dez mil horas sem acidentes de trabalho.

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