Uma portuguesa a dançar com Sasha Waltz

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"Dezoito, dezanove, vinte..." A meio de Körper, o espectáculo que a coreógrafa alemã Sasha Waltz e a sua companhia apresentam hoje e amanhã no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, uma intérprete surpreende-nos a contar os seus cabelos em português. "Vinte e um, vinte e dois..." A voz é de Cláudia Serpa Soares, a portuguesa que, desde 1999, trabalha com Waltz.

Cláudia tinha terminado o Conservatório e frequentava ainda a Escola Superior de Dança quando tomou a decisão de ir para o estrangeiro. "Já tinha percebido que não queria fazer dança clássica e achei que não havia muitas opções em Portugal - agora parece-me que a situação já é um bocadinho diferente", recorda a bailarina, hoje com 32 anos. Foi para França, passou pela Eslovénia, voltou a Lisboa em 1997 para trabalhar com Paulo Ribeiro, até que, um dia, descobriu que Sasha Waltz estava a fazer audições e decidiu enviar o currículo. "Lembrava-me de ter visto um espectáculo dela e de ter gostado muito." Aconteceu. Começou por participar num projecto, curto, só de três semanas. "Porque ela faz sempre isso antes de escolher uma pessoa para a companhia. Foi um bom encontro." Körper, o primeiro espectáculo de Sasha Waltz na Schaubühne (em Berlim), foi também o primeiro em que Cláudia Serpa Soares participou. Körper é a primeira peça de uma trilogia dedicada ao corpo. A proposta foi "Vamos olhar para o corpo das mais variadas formas que conseguirmos. De que é constituído o corpo, o que é a pele, os ossos, os músculos, etc. Fizemos uma análise clínica. Depois também olhámos para os diferentes corpos que existem e, finalmente, fizemos uma abordagem mais psicológica, sobre o modo como os estados emocionais se reflectem no corpo." O espectáculo teve as melhores críticas em toda a Europa e continua ainda em repertório. A segunda peça intitula-se S e é dedicada à sedução e à sexualidade; e a terceira, Nobody, é sobre a morte.

Às vezes, faltam palavras em português para Cláudia se expressar. Apesar disso, a bailarina está a comprar uma casa em Portugal e não exclui totalmente a hipótese de um dia regressar. "Passados cinco anos e meio, começo agora a pensar se quero continuar ou não com a Sasha", revela. "O ritmo de trabalho é tão acelerado, estamos sempre a estrear novas peças mas as anteriores continuam em repertório e é muito cansativo. Além disso, quero fazer outras coisas, trabalhar com outras pessoas." Antes mesmo de viajar para Lisboa, Cláudia Serpa Soares esteve na Grécia a colaborar com a artista plástica Eve Sussmann, inglesa a residir em Nova Iorque.

Em Körper, os intérpretes falam quase sempre em inglês mas, por causa de Cláudia, talvez esta noite haja mais palavras em português.

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