Uma guerra a crédito

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Todos os dias passo na mesma rua. Algumas lojas nunca abriram nos últimos 12 dias. Têm os mesmos manequins a descascar, com os mesmos vestidos, com a mesma promessa de saldos de 70%. Até as lojas de brinquedos têm montras cheias de peluches de clássicos da Disney. Nem um Harry Potter. Nem um videojogo. Os sapatos quase transpiram um cheiro a borracha para o lado de cá das montras poeirentas. Despejados uns por cima dos outros, como se o dono do estabelecimento já tivesse vendido a loja e, aliviado, fechado a porta à pressa. Há muito tempo.

Não há quem compre. A moeda israelita tem vindo a desvalorizar. O dinheiro tem um percurso traçado: a padaria, depois o mercado de frescos e, logo a seguir, as bancas de goma. Os homens estão na guerra e as crianças sem escola.

Os colchões dos sem-abrigo ficam no chão mesmo ao sábado. Também aqui os pedintes têm uma calculada preferência pelas esquinas (apanham quem passa de várias ruas).

Há quem diga que será por isso que esta guerra não pode durar muito, dentro desta guerra maior que tem sido eterna.

Quem diga que Israel não consegue viver muito mais tempo com a já débil economia estagnada, sem mão de obra palestiniana, sem consumo, que tem sido reduzido ao mínimo, sem turismo.

Os palestinianos, até os que que trabalhavam em Israel ou com turistas, começam a pensar em adiar o pagamento aos bancos da mensalidade da casa ou do terreno que queriam deixar aos filhos.

Os Estados Unidos dão uma ajuda aos judeus: a dita "comunidade internacional" dá uma ajuda aos palestinianos, mas a todos, e de todas as formas, esta nova explosão do velho conflito está a sair muito cara.

Enviada especial do DN e da TSF a Israel.

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