Tributo a António Arnaut
No dia em que passam 5 anos sobre o seu desaparecimento físico, a memória de António Arnaut é cada vez mais viva e mais presente, por constituir um legado moral e ético que impõe enaltecer e defender, onde os valores da solidariedade e da justiça social - que ele defendeu como ninguém - são um exemplo que deve ser projetado para o futuro, como uma das traves mestras da democracia.
Para quem teve o privilégio de ser seu amigo e a ocasião de com ele conviver, é testemunha da estoicidade com que defendia a ética na política, a sã convivência entre os que pensavam diferente, a liberdade do pensamento, o respeito pela opinião dos que dele divergiam ideologicamente, a luta permanente pelo prestigio das instituições do Estado, a forma de fazer política e a primazia dada à cultura como instrumento de interpretação da sociedade e valorização do Homem. Pertenceu a um notável grupo de estadistas, que se dedicou por inteiro ao seu país, à sua terra, à sua cidade. No fundo, era uma rara reserva ética e moral com que os cidadãos podiam contar.
Na nossa história democrática poucos Portugueses deixaram um legado tão importante como António Arnaut - o seu Serviço Nacional de Saúde - o maior bem, ao lado da democracia e da liberdade; foi o seu advogado empenhado e ensinou a defende-lo e a acarinha-lo com invulgar inteligência e convicção.
Mas António Arnaut não foi apenas o arquiteto, o construtor e o advogado do SNS. Foi muito mais: deixou-nos uma invulgar obra literária enriquecida por uma extraordinária cultura e uma invulgar perspicácia, onde o equilíbrio da sua escrita desenhou o equilíbrio da diversidade poética que nos legou. Com uma rara sensibilidade escreveu: "A poesia é esse rio que nos percorre, ora calmo, ora tormentoso, entre as margens irmãs da Ética e da Estética, em cuja foz impossível esperamos acordar os deuses, rasgar uma estrela do véu de Ísis e decifrar, enfim, o mistério da palavra perdida..."
Citando o académico Delfim Leão: "A obra de António Arnaut é marcada por um profundo sentimento de confiança na capacidade psicológica da arte poética ou seja na sua aptidão para ser condutora de almas; um atento empenho social, que reforça o papel do poeta enquanto interprete e guia do seu tempo...".
António Arnaut foi a todo o tempo uma referência ética para todos os que entendem o exercício político como um instrumento para, com dedicação, empenho e seriedade poder ajudar a melhorar a vida dos concidadãos, e não como um privilégio de vantagem económica ou social.
Recordar António Arnaut nos 5 anos do seu falecimento, é ajudar a reviver o seu maior legado: a ética e a moral no respeito absoluto pelo prestigio das instituições a par da solidariedade e da justiça social tão presente no Serviço Nacional de Saúde.
José Martins Nunes - Ex-Secretário de Estado da Saúde (XII Governo Constitucional)
Adalberto Campos Fernandes - Ex-Ministro da Saúde (XXI Governo Constitucional)