Roupas das telenovelas estão no 'pequeno Brasil' de Luanda
As roupas baratas da China e da Nigéria não assustam os comerciantes do "pequeno Brasil" em Luanda, porque não há peça usada pelas estrelas das telenovelas brasileiras que passam nas televisões de Angola que não tenha grande procura.
Na famosa zona do Arreou (baixou o preço) são muitas as lojas decoradas com as cores da bandeira brasileira: Parangolê, Brazuca, Planeta Brasil e Brasil Magazine são das maiores e todas pertencem a comerciantes brasileiros que há uma década descobriram o mercado angolano e ali assentaram arraiais.
Centenas de pessoas entram e saem das lojas das 08.00 às 17.30, à procura de "roupas que se estão a usar nas novelas" e com "bons preços", que variam entre 600 e 5000 kwanzas (seis a 50 euros).
Mauro Hamid, em Angola desde 2003, é dono da primeira loja de venda de roupa brasileira no bairro de S. Paulo, em Luanda, e em duas palavras resume o negócio: "Muito bom." "É rentável, não tem dificuldade - agora um pouco por causa do congestionamento do Porto [de Luanda], mas antes nenhum problema. É um negócio lucrativo", resumiu o comerciante.
Mauro Hamid explicou ainda à Lusa que o que lhe chamou a atenção para o negócio foi o facto de muitos angolanos, as "moambeiras", irem ao Brasil comprar roupa em grandes quantidades.
Este ano já importou quatro contentores de roupa, que, antes da concorrência dos seus compatriotas, vendia em 20 dias. Hoje precisa de esperar dois a três meses. "Antigamente era sozinho e agora já tem muita gente aqui. São mais de dez brasileiros com lojas só nessa rua", disse, havendo ainda vários angolanos e libaneses que tiram proveito das cores brasileiras para vender vestuário.
Vanda Silva e Hélder Fuad, brasileiros com lojas na mesma rua, também atribuem a rentabilidade do negócio às novelas. E é tanta que Vanda, gerente da Parangolê, já abriu quatro espaços comerciais em S. Paulo, porque os angolanos "compram muito e gostam de seguir a moda das novelas". "Trazemos 12 contentores por ano, de calçado e roupas. Os produtos vêm do nordeste do Brasil, Pernambuco", explicou.
Vanda Silva, há três anos em Angola, gosta de estar no país e só acha o trabalho "cansativo" porque tem de acordar às 04.30 para às 08.00 abrir a loja. Hélder Fuad também acha "lucrativo" o negócio, senão não investiria 143,2 mil euros em roupas do Brasil e também da China.
"Já trabalhava no ramo no Brasil e, por intermédio de um amigo, vim para Angola vender roupa brasileira", contou. "Ganho uma média de 40 mil dólares mês (28,6 mil euros) com a venda."