Receita das sopas da mamã rende dois milhões por ano
Com os dotes culinários da mãe e ingredientes frescos, de preferência alentejanos, três irmãos de Évora lançaram-se, quase "por brincadeira", na produção de sopas embaladas, totalmente naturais, que estão a vingar em Portugal e Espanha.
"Foi uma brincadeira", garante Graciete Vieira, de 60 anos, que nunca cozinhara para fora, mas deixou um emprego fabril para abrir um restaurante com os filhos e, 10 anos depois, "embarcar" na "aventura" culinária das sopas frescas embaladas.
A ideia foi concretizada há seis anos e originou as Sopas Portuguesas ou Sopas da Graciete, presentes nos hipermercados de todo o país. A empresa gerida pelos irmãos Nuno, Cláudio e Vasco Vieira exporta também as suas sopas, desde há três meses, para uma cadeia de hipermercados em Espanha.
"No restaurante, já fazíamos sopas e vendíamos para fora", conta Vasco, de 34 anos, explicando que o primeiro ano foi investido no desenvolvimento do produto.
Uma vez "apurados" os sabores e a confecção, "nasceram" as Sopas Portuguesas, elaboradas com "produtos frescos", de preferência oriundos do Alentejo.
"O que marca a diferença, se calhar, é mesmo a qualidade dos produtos", avança Vasco, referindo que, todos os dias, recebem vegetais frescos, que só compram fora, "em Espanha ou França", quando não há alternativa local.
Além disso, insistiu, como esta sopa embalada "não é pasteurizada" e não leva "aditivos ou conservantes", a qualidade dos vegetais é mesmo um imperativo. "Ao não ter aditivos, não conseguimos alterar o paladar dos vegetais", justifica, sublinhando que essa opção, permite confeccionar uma sopa "da mesma maneira que em casa".
O produto começou, desde o início, a ser escoado para a grande distribuição. Só que, à medida que as vendas cresceram, o palco inicial desta alquimia de sabores, a cozinha de um salão onde serviam festas e casamentos, ficou pequeno.
Por isso, há uns meses, inauguraram uma fábrica própria, no Parque Industrial e Tecnológico de Évora. Aí, os 55 funcionários laboram por turnos e nem sequer falta uma creche, para as 11 crianças do pessoal da "casa".
Numa das alas das instalações, onde só se entra com vestuário adequado e mãos desinfectadas, vários funcionários rodeiam uma enorme máquina, com lixas, que descasca batatas ou cenouras. Depois, os ajustes finais fazem-se à mão. Ali ao lado, outros colegas descascam alhos ou "migam" espinafres e couve, enquanto, na cozinha, é Graciete quem põe "as mãos na massa", com as sopas a rechearem panelas de 150 litros.
Por semana, contabiliza Vasco, por alto, devem passar pelas mãos da mãe "umas 15 toneladas de cenoura e de batata", sem contar com o "alho, cebola, grão, feijão, espinafres", e são gastos "mil litros" de azeite. As sopas são, depois, embaladas e arrefecidas, através de um processo de refrigeração desenvolvido pela empresa. Mas, para evitar o olhar da concorrência, é a única zona "secreta" da unidade fabril.
A sopa, essa, "não tem mesmo segredo nenhum", afiança Graciete, embora sentencie que "tem que ser feita com muito amor e carinho. E temos que ter muito gosto e muito olho", sublinha, apressando-se a dar o toque final numa das sopas ao lume, manejando uma colher em tamanho XXL: "Quando a sopa dança na colher é porque já está boa."