Preparação do mural da paz anima quotidiano do bairro
Quinta da Fonte. Apesar do peso da presença policial, moradores procuram levar vida 'normal'
Jovens fazem formação sobre 'graffiti' com monitores brasileiros
A avenida principal da Quinta da Fonte, em Loures, viveu alguma agitação na tarde de ontem quando a carrinha dos efectivos da PSP que ali estão de serviço arrancou a alta velocidade. Um condutor tinha passado sem parar pelo check-point que os agentes montaram à entrada do bairro para verificar documentação e veículos.
"Meu Deus, parece tal e qual no Brasil, a polícia faz esses números também para impressionar." Ana é brasileira e monitora na área social . Está há um mês em Portugal a colaborar com o programa Escolhas. O mural da Quinta da Fonte será o seu primeiro trabalho num bairro problemático no nosso País. "Estamos a desenvolver algo muito parecido com o que já fizemos no Rio de Janeiro, na Cidade de Deus", acrescenta. "Aqui estamos a trabalhar com jovens entre os dez e os 24 anos na área do hip hop da cultura relacionada como o rap, o graffiti, DJ e street dance", explicou.
António Embaló, coordenador do Projecto Escolhas na Quinta da Fonte, é o grande dinamizador e elemento agregador de todas as actividades que envolvam os jovens do bairro. O ponto de encontro é a Casa da Cultura da Apelação. Um oásis de animação no meio da aridez das paredes desbotadas dos prédios.
Zico, riscou no papel a cara de alguém que todos identificam. "É do bairro". Todos riem com o traço desajeitado e exagerado. "Eu não percebo nada de graffiti estou a aprender", contou Zico ao DN durante a formação que decorreu ontem nas instalações da Casa da Cultura.
Antes da pintura do mural pela paz, que vai decorrer na sexta-feira nas paredes de um edifício junto à Ave- nida José Afonso, bem perto do local do tiroteio, além dos writers em formação, um grupo de raparigas ensaiava sakiss, funaná, ragga e kuduro. "Vamos participar num espectáculo das Festas de Loures", contaram-nos, sublinhando que esta já não é a primeira vez que o fazem. "O bairro tem coisas positivas para mostrar, não é só a imagem que tem passado", diz António Embaló.
Ciganos dispersam
As famílias ciganas que estiveram em Frielas, resolveram entretanto aguardar uma solução para o seu problema em casa de familiares. "Houve conversações com a Governadora Civil, estabeleceu-se uma boa base de trabalho, que ainda vai continuar", disse ao DN Carlos Caria, advogado da comunidade cigana. Jorge Andrew, do gabinete da Governadora Civil, confirmou que se "conseguiu chegar a uma base metodológica, tirando as pessoas da rua e estudando soluções". Haverá uma actualização do levantamento dos fogos vandalizados. Mas, como já tinha sido definido, as nove famílias ciganas que tinham os seus fogos destruídos, têm agora a opção de procurar uma solução de alojamento provisório, apoiada pela Segurança Social, caso queiram voltar ao bairro, depois de realizadas as obras nas suas casas.