O técnico informático tímido que liberta peluches das máquinas de brindes

Aquilo que começou quase por acaso transformou-se numa atividade diária que Chen Zhitong, de 35 anos, pratica com alta perícia.
Publicado a
Atualizado a

Chen Zhitong tornou-se uma figura popular na República Popular da China em 2016 ao ganhar três mil peluches às máquinas de brindes em apenas seis meses. Técnico informático, Chen, de 35 anos, decidiu doar mais de mil desses bonecos a instituições que trabalham com crianças deficientes. E vai continuar a fazê-lo porque a sua coleção ultrapassa os 15 mil brinquedos - reunidos no espaço de um ano. Mas a coleção conta com muitas mais peças porque há quase três anos que Chen vem ganhando bonecos nas máquinas dos centros comerciais de Xiamen, cidade da província de Fujian, onde reside. Tornou-se de tal maneira conhecido que os donos das máquinas pedem-lhe para não jogar e chegam a pagar-lhe para o não fazer.

Chen é conhecido como o "professor das máquinas de brindes". E aquilo que começou por acaso tornou-se uma dupla vocação: não só continua a colecioná-los como os vai doando para crianças que ajuda, assim, a tornar um pouco mais felizes. E ainda por um outro motivo: "Quando olho para os bonecos dentro das máquinas, imagino que são prisioneiros e que é meu dever libertá-los.".Hoje, quando vai jogar, Chen transporta consigo um saco cujas dimensões atestam a competência com que manobra as máquinas.

"Ter tantos peluches em casa tornou-se impossível", reconhecia recentemente Chen, que vive num apartamento de três divisões. "Estavam a tornar-se um problema e percebi que devia começar dá-los a quem mais precisa." Explica que o segredo do seu sucesso é perceber quais são as máquinas, conhecidas em inglês como sclaw machines (máquinas de pinças), que não estão programadas e as que estão. Nas primeiras, "com habilidade, pode ganhar-se. Nas outras não, independentemente da tua habilidade", afirma. E dá algumas dicas como ter sucesso num passatempo habitualmente frustrante para a esmagadora maioria dos que são tentados por estas máquinas e bonecos no seu interior. "Há vários pontos a ter em consideração para ter sucesso. Um deles é a capacidade de retenção das pinças. Têm de ser capazes de exercer forte pressão" para manter preso o peluche, "de outro modo, este acaba por escorregar". Outro aspeto a considerar: "O ângulo de rotação da garra", se for muito inclinado, existe maior probabilidade de o boneco cair. Finalmente, "as formas dos bonecos também contam", tornando mais fácil ou complexo mantê-lo entre as pinças. E dois pequenos segredos pessoais: a "concentração. Quando estou numa das máquinas, a minha mente está totalmente concentrada no que estou a fazer". O segundo é "escolher sempre as máquinas que têm maior número de bonecos". Porque se "a altura dos brinquedos for mais elevada do que a barreira que os separa do espaço por onde tem de passar o que apanhámos, é mais fácil ganhá-lo. Se o nível dos brinquedos for muito mais baixo do que a barreira, é mais difícil segurar um boneco, levantá-lo e movê-lo na horizontal para lá da barreira". Tipicamente, na China é preciso pagar o equivalente a cerca de 15 cêntimos e o jogo é bastante popular, existindo máquinas em todos os centros, e é possível tentar a sorte com um pouco de tudo, de caranguejos vivos a carteiras, marroquinaria e relógios.

Chen começou a jogar em julho de 2015, e a princípio era apenas um jogo entre outros.

Numa recente entrevista ao MailOnline, Chen, que a publicação caracteriza como um "solteiro tímido", revelou mais um pouco da sua estratégia: "A minha maior satisfação é descobrir como funciona cada máquina. Para isso, primeiro vejo outros a jogar e depois é que faço algumas tentativas para testar a força das pinças e o tipo de rotação." E recorda o sucesso que teve logo numa das primeiras vezes que jogou: gastou o equivalente a 2,3 euros (20 yuan, o equivalente a uma refeição típica num restaurante normal; um menu em cadeias de fast food custa sensivelmente o dobro) e ganhou quatro peluches - um bom resultado.

Nos meses seguintes, Chen ganhou três mil peluches, uma média que melhorou sensivelmente a seguir para mil por mês. A partir de certa altura, passou a vender de volta aos comerciantes os peluches que retirava das máquinas, para estas não ficarem com poucos brinquedos.

À medida que cresceu a popularidade de Chen, cresceu à sua volta um grupo de praticantes da "modalidade", que ele estima serem entre 300 a 400 e que se mantêm em contacto através das redes sociais chinesas.

O novo objetivo de Chen é concentrar-se agora nas "máquinas com brinquedos mais caros" e partilhar os seus conhecimentos com outros jogadores. Para isso, criou uma página na rede social huajiao.com para o efeito e também para transmitir em direto as vezes em que joga.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt