O segundo voo do homem-pássaro
Chegam os "play-offs" e, com eles, a hora dos grandes. LeBron James, Kobe Bryant ou Dwyane Wade sabem que é nesta altura que se joga o direito à imortalidade na memória da NBA. Mas algumas das mais belas histórias dos "play-offs" têm como protagonistas heróis improváveis.
Em Denver, onde uns Nuggets em metamorfose entram surpreendentemente nos "play-offs" como a segunda melhor equipa da supercompetitiva conferência Oeste, mora uma dessas histórias prontas a saltar para as primeiras páginas. A história de Chris Andersen, um "poste" que aos 30 anos vive a sua segunda vida na NBA.
Andersen é um daqueles jogadores aparentemente sem nenhum jeito especial para o basquetebol. Um "branco" alto, com movimentos pouco ortodoxos, imagem de atleta descoordenado, quase incapaz de fazer um drible. Falhou a entrada na liga em 1999, no ano em que acabou a universidade em Houston, e entrou para o "anedotário" da NBA em 2005, quando participou no concurso de afundanços do All Star Weekend: falhou as oito primeiras tentativas no primeiro lançamento e outras cinco tentativas no segundo até conseguir afundar.
E no entanto Chris Andersen é um daqueles jogadores que todos os adeptos adoram ver nas suas equipas. Com uma entrega inexcedível, capaz de se atirar para as bancadas atrás de qualquer bola perdida e uma alegria enternecedora que faz lembrar a imagem de Tom Hanks na sua correria em Forrest Gump. A isso Andersen junta uma personalidade excêntrica, com os seus penteados invulgares, as diversas tatuagens e uma maneira peculiar de celebrar cada afundanço com um movimento de braços a imitar um pássaro. O que, obviamente, lhe valeu a alcunha de "Birdman" (homem-pássaro) na NBA.
Em 2006, foi suspenso por dois anos, devido a violação da política anti-droga numa liga onde muitos são os casos de consumo de estupefacientes e poucos os castigos tão duros. Mas Andersen voltou, contra todas as previsões. Em Denver, e jogando menos de 20 minutos por jogo, acabou a época regular como o segundo melhor da liga em desarmes de lançamento. Para os Nuggets chegarem longe nos "play-offs", serão cruciais os pontos da estrela Carmelo Anthony, sim, mas também o espírito de Andersen neste seu segundo voo na NBA.