Morte Limpa

Veja aqui a crítica de Inês Lourenço e de Rui Pedro Tendinha ao filme de Andrew Niccol
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INÊS LOURENÇO (Classificação 2/5)

Um retrato demasiado "limpo"

Andrew Niccol tem uma queda natural para a exploração das fronteiras entre a tecnologia e o comportamento humano. É dele a autoria do argumento de The Truman Show- A Vida em Direto, e de Simone (que realizou em 2002), por exemplo, ambas histórias em torno da criação informática e dos dispositivos de vigilância ilimitada. Na mesma senda inscreve-se Morte Limpa, sobre um ex-piloto da Força Aérea que agora opera o envio de drones armados para alvos no Iraque, a partir dos Estados Unidos. Um autêntico miúdo alienado diante do computador, repetindo "good kill" a cada explosão silenciosa no ecrã. As implicações morais e psicológicas da função de Tommy (Ethan Hawke), na realidade, quando se retira da perturbante neutralidade virtual, são um estudo de caso. O seu alheamento, com reflexos no ambiente familiar, é o mesmo de Chris Kyle no Sniper Americano: o rosto destas personagens sustenta a pressão que não pode ser libertada pelo corpo.

O que falta neste filme? Um aprofundamento das questões que levanta, ficando-se pelo retrato linear de um homem agarrado ao silêncio da sua garrafa de vodka.

RUI PEDRO TENDINHA (Classificação 1/5)

A angústia do piloto de drones no momento da penalidade

Um filme de guerra sem a guerra lá dentro. No plano teórico, a démarche do argumentista e realizador Andrew Niccol (escreveu The Truman Show- A Vida em Direto (1998) mas também realizou o desinteressante Simone (2002) tinha um potencial tremendo: observar a neurose de culpa (e o tédio, já agora..) de um piloto do exército americano campeão em fazer explodir alvos no Afeganistão através de um drone a milhares de km's de distância nos EUA. A nova guerra, o novo sniper americano. Mas Morte Limpa é um chorrilho de clichés, um daqueles filmes que subestima o pensamento do espetador. Sabemos sempre as artimanhas sentimentais da intriga. "Percebemos" logo o martírio moral do piloto (brilhantemente interpretado por Ethan Hawke) e chega a ser ofensivo quando o vemos num plano na sua cama com uma lágrima no canto do olho.

Um filme choramingas sem poder dramático e com uma frouxidão narrativa que, ironicamente, faz padém com o travo de patriotismo americano deslocado. É certo que se trata de um objeto "liberal" e até anti-bélico, mas a "pintura" do bom americano que se sente salvo por mandar pelos ares o talibã "bad guy" é nojenta...

[youtube:uyJiH5OljTY]

Título Original: Good Kill

De: Andrew Niccol

Com: Erhan Hawke, January Jones, Zoë Kravitz

Ano: 2014

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