A possibilidade de o vaivém Atlantis ser atingido por um fragmento de lixo espacial durante a sua missão de reparação e modernização do telescópio Hubble é de 1 em 221. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para a NASA ter o Endeavour preparado para partir a qualquer momento numa missão de socorro. Ontem, os astronautas inspeccionaram o Atlantis para garantir que não houve danos da descolagem de segunda-feira. .As primeiras imagens não revelaram problemas, mas uma análise mais minuciosa tornou-se obrigatória depois do acidente com o Columbia. Em 2003, este vaivém desintegrou-se ao reentrar na atmosfera, matando os sete astronautas a bordo, porque um pedaço da protecção térmica tinha sido arrancado durante a descolagem. Mas, desta vez, a agência espacial norte-americana não está apenas preocupada com a reentrada. .O telescópio Hubble encontra-se numa órbita a cerca de 560 quilómetros da Terra, onde existe mais lixo espacial do que na órbita da Estação Espacial Internacional (ISS, a 350 km). Caso algum destes microfragmentos embata contra o Atlantis, poderá haver problemas e o vaivém estará muito longe da ISS, na qual os sete astronautas poderiam ficar em segurança - a possibilidade desta ser atingida pelo lixo espacial é menor, uma em 300..Por isso, a NASA desenvolveu um plano de salvamento, ao melhor estilo de Hollywood. É a primeira vez que uma segunda tripulação (quatro astronautas) e outro vaivém estão preparados para partir do Cabo Canaveral (Florida), em caso de dificuldade. Se houve alguma avaria, a tripulação do Atlantis terá ar para 25 dias. Se o vaivém tiver de ser abandonado, será programado para se autodestruir e cair no oceano Pacífico. .A missão pode ser de alto risco, mas é por um objectivo nobre: reparar e modernizar o telescópio lançado em 1990 que mudou a história da astronomia, contribuindo para uma melhor compreensão da origem e evolução do Universo. Depois da intervenção da tripulação do Atlantis, o Hubble "será mais potente e mais robusto do que nunca e funcionará pelo menos até 2014", disse o director das missões científicas da NASA, Ed Weiler. .A aproximação ao telescópio de 12,5 toneladas realiza-se já hoje, devendo o braço robótico do vaivém puxar o Hubble para a plataforma de trabalho, possibilitando um mais fácil acesso ao seu interior. Amanhã, começará a primeira de cinco saídas espaciais dos astronautas (cada uma de sete horas) numa missão que deverá durar no total 11 dias. .Na lista de tarefas está a instalação de novos instrumentos, a reparação de outros dois, a substituição dos giroscópios, das baterias e da unidade que armazena e transmite os dados para a Terra. Finalmente, depois de concluído o trabalho, os astronautas vão colocar o telescópio a uma altitude mais elevada, para impedir que a gravidade do planeta o atraia. Caso a missão seja bem sucedida, o Hubble (baptizado em honra do grande astrónomo norte--americano Edwin Hubble) ficará 90 vezes mais potente do que na sua forma original. .É um verdadeiro face lifting capaz de trazer o telescópio para o século XXI e antes da chegada do seu sucessor, o telescópio espacial James Webb, que será lançado em 2014. Baptizado em nome de um antigo administrador da NASA, vai procurar as primeiras galáxias, que se formaram logo após o Bing Bang, há 13,7 mil milhões de anos.