Jovem de 19 anos morre para salvar produção de alfarroba

Família aponta tentativa de roubo como móbil do crime ocorrido junto à casa da família, perto de Paderne. André Paiva cuidava do avô paterno, acamado, e queria seguir um curso de Desporto na Universidade do Algarve.  Jogador de futebol desde os seis anos, o seu sonho era vir a ser treinador
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Uma tentativa de roubo de alfarrobas, com discussão à mistura, envolvendo pelo menos três indivíduos de etnia cigana, segundo apurou o DN, terá estado na origem da morte de André Paiva, de 19 anos, na segunda-feira à tarde, junto à moradia onde a família vive, na zona de Cerro do Roque, perto de Paderne, no interior do concelho de Albufeira.

O jovem, que como habitualmente se encontrava a cuidar do avô paterno, de 86 anos, acamado, foi alvejado com dois tiros, um na cabeça e outro numa perna, tendo sido encontrado pelo pai, cerca das 18.20, quando este regressou a casa com a mulher. A PJ já assumiu a investigações.

"Quando saí daqui para ir à oficina mudar o óleo da carrinha eram 16.00. Foi a partir dessa altura que eles atacaram. Ao chegar a casa perguntei ao meu pai pelo André e ele respondeu-me que não sabia. Fui ao quarto, pensando que estaria a descansar, e tanto ali como na casa de banho não o encontrei. Achei estranho. Ao dar mais três ou quatro passos, encontrei o meu filho, debaixo de árvores, deitado de barriga para cima e de braços estendidos. Nada estava junto dele. Comecei aos gritos", contou, ontem, emocionado, ao DN, David Paiva, de 56 anos, aposentado da fábrica de cimento da Cimpor, em Loulé.

Os familiares do jovem falecido -  que tinham 600 arrobas de alfarroba na sua propriedade [avaliadas em cerca de 36 mil euros] -    não hesitam em apontar o dedo a indivíduos de etnia cigana, que aterrorizam, sobretudo nesta altura do ano, os habitantes daquela zona do Algarve com sucessivos furtos de alfarrobas em propriedades e ameaças com armas de fogo.
 
Contudo, desta vez, nada foi roubado no terreno daquela família. O avô de André Paiva, que estava sentado no alpendre quando o filho e a nora chegaram a casa, diz ter "ouvido os ciganos a ralharem" com o jovem, que também discutiu com os alegados intrusos. Uma vizinha viu, durante a manhã de segunda-feira, "ciganos a rondarem" a zona.

Já Anatólio Cabrita, de 66 anos, agricultor reformado, contou ao DN ter deparado nessa tarde, por volta das 16.00, junto à casa da família do jovem assassinado, com movimentações suspeitas - uma carrinha branca , de marca Ford, de caixa aberta, da qual saíram "um casal de ciganos aparentando 30 e tal anos e dois garotos de sete ou oito anos. Ela foi encher uma garrafa de água. Quando me viram foram-se logo embora". "Não ouvi tiros, talvez devido à trovoada", relata Anatólio Cabrita.
 
"Ele morreu com um sorriso nos lábios, tal como nesta imagem", descreveu, por seu turno, ao DN, a mãe, Helena Paiva, de 42 anos, que trabalha ao serviço da câmara de Albufeira, numa escola na localidade da Guia, ao mostrar um quadro com uma foto do filho vestido com o equipamento do Padernense, em cuja equipa de juniores jogava como médio esquerdo.

"Adorava desporto e toda a gente gostava dele. Onde ia fazia uma festa. Sempre gostou muito da família", recorda. O jovem estava a tentar ingressar  na Universidade do Algarve, para seguir um curso na área do Desporto. Queria  ser treinador profissional. "Jogava futebol desde os seis anos; ao deixá-lo jogar futebol quis que estivesse afastado de certos perigos", conta  Helena Paiva.

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