Israel lava as ruas todos os dias
Logo pela manhã, cheira bem na Cidade Velha de Jerusalém. Há pão no forno de certeza, o cheiro do pão acabado de cozer é igual em todo o lado. Haverá alguém a fazer pão em Gaza?
Em Jerusalém o ar está mais limpo que o habitual, tem chovido de vez em quando e depois o sol volta radioso. Deveria ser proibido estar tão bom tempo assim. Será que se vê o sol em Gaza?
As pedras da calçada onde, segundo os crentes, Cristo e Moisés caminharam, estão gastas pelos séculos e pelos peregrinos. Hoje quase brilham, polidas. E caminhos, quantos caminhos estão ainda transitáveis em Gaza?
No bairro muçulmano há jardins-horta suspensos, pendurados nas paredes, à volta de algumas portas baixas. Caixinhas de plástico com plantas cuidadosamente protegidas por redes ou pedaços de vidro: Tomate, piri piri, flores iguais às de todo o lado. E restará alguma cor em Gaza?
As lojas parecem ser de cenário, sem clientes estão arrumadíssimas todos os dias. Parece que ninguém toca em nada há muito tempo. Vestidos alinhados ao milímetro, pirâmides de temperos de cores impossíveis. No bairro muçulmano e no bairro judeu as bancas estão cheias de fruta da época. Ainda há árvores em Gaza?
Nos becos estreitos da Cidade Velha há restos de espuma que fazem desenhos abstratos. Israel lava as ruas todos os dias. Na Via Dolorosa há uma fonte onde alguém traduziu do árabe, "O Profeta Maomé disse: Dar água a quem tem sede é a maior das caridades".
E em Gaza?