Imagens premiadas em exposição
Estar no sítio certo à hora certa pode ser fundamental para conseguir "a" fotografia. Mas uma forma diferente de olhar para um assunto banal também pode ter o mesmo resultado. "É uma mistura destes dois tipos de trabalhos que foram distinguidos pela World Press Photo", explica Femke van der Valk, comissária da exposição, inaugurada ontem no Museu da Electricidade, em Lisboa.
De entre as 96 268 imagens de 5508 fotógrafos oriundos de 124 países que a organização recebeu, o júri, liderado por MaryAnne Golon, elegeu o trabalho do fotógrafo Anthony Suau como o vencedor. Duas razões pesaram na escolha: o tema, a crise económica e financeira, e a forma como o fotógrafo mostrou essa crise.
"Não são corretores na bolsa, desesperados, de braços em baixo. É a crise que as pessoas sentem, no seu dia-a-dia", refere van der Valk. "Ainda por cima, à primeira vista, dir-se-ia que a imagem mostra um cenário de guerra. Mas a guerra é outra: a de pessoas que são expulsas das suas casas porque não conseguem pagar as hipotecas das casas ao banco". Anthony Suau, que fez o trabalho em Março de 2008, relembrou ao DN o que encontrou em Cleveland, Ohio: "Vi famílias inteiras, com crianças, a serem despejadas das a meio da noite, em pleno Inverno".
Numa altura em que mesmo nos Estados Unidos o endividamento das famílias por causa da crise ainda não era muito falado, Suau confessou que não estava à espera do cenário que encontrou: "Parecia que a cidade tinha sido atingida por um furacão, do tipo do Katrina, em Nova Orleães. Havia ruas inteiras em que as casas estavam abandonadas porque as pessoas tinham sido despejadas ".
Uma visão diferente do tema que marcou a actualidade internacional em 2008 valeu o primeiro prémio ao norte-americano, distinção que já lhe tinha sido atribuída em 1987. Um Pulitzer, em 1984, e uma Robert Capa Gold Medal, em 1996, também fazem parte do seu currículo.
Mas a exposição também mostra outro tipo de imagens. A comissária destaca, por exemplo, a terceira classificada da categoria de notícias gerais, que captou a gravidade do ciclone na Brimânia. "Apesar de o Gorveno birmanês ter fechado as fronteiras, mesmos às ONG, o fotógrafo [Olivier Laban-Mattei, da agência France Press] iludiu as autoridades, conseguindo um visto de três dias, com a namorada. As suas imagens são das poucas conhecidas sobre o que se passou. E esse é um aspecto que também é valorizado".
Por outro lado, como refere a responsável, ao contrário do que seria de esperar, "a fotografia vencedora da categoria Notícias, sobre o terramoto de Maio na China, não é de uma grande agência internacional, mas sim de um fotógrafo local".