Gertrudes Nunes aprendeu a ler e escrever para tirar a carta

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Depois de muitos anos em França a ganhar a vida como emigrante, Gertrudes Nunes, 71 anos, regressou juntamente com o marido a Portugal em 1986 e adquiriram em Elvas uma vivenda de quatro pisos. Para continuar a ganhar a vida, ela inscreveu-se como ama, passando a receber crianças em casa enviadas pela Segurança Social, e ele tornou-se motorista na delegação do Centro Regional de Segurança Social.

Passados dez anos, ele está acamado, com uma doença grave, e ela, que não sabia ler nem escrever, foi frequentar a escola para poder tirar a carta de condução e dedicar-se apenas a cuidar do marido. Tudo isto no decorrer do processo. Estão falidos.

Gertrudes Nunes, acusada de ceder a sua casa para os abusos sexuais, foi absolvida pelo tribunal de primeira instância sem perceber como surgiu no caso. E quando já se pensava livre dele, o Tribunal da Relação de Lisboa mandou repetir o julgamento na parte referente a Elvas e voltou a sentá-la no banco dos réus. A nova sentença é lida a 25 de março.

A vivenda de Gertrudes Nunes tem quatro pisos, não tendo sofrido quaisquer obras desde que a comprou. No rés do chão reside, desde 1993, a filha, que é professora. No 1.º e 2.º andares os proprietários. No 3.º existem quartos que ao longo de seis anos foram alugados a professores que vão trabalhar temporariamente para a cidade.

A casa situa-se numa rua de circulação reduzida, ocupada por vivendas apenas de um lado. Do outro lado existe um terreno descampado. Carlos Cruz estava acusado de um crime de abuso sexual naquela casa cometido a um sábado. Depois, provou-se que teria sido impossível ter sido em dia de fim de semana. Então o Ministério Público alterou para um dia qualquer, e condenou o arguido. Mas absolveu Gertrudes Nunes por entender não ter ficado provado que tivesse tido conhecimento dos crimes cometidos na sua casa. O Tribunal da Relação mandou repetir tudo.

Nesta segunda parte do julgamento, vários pais que deixavam as crianças ao cuidado de Gertrudes Nunes testemunharam em tribunal que entravam e saíam a qualquer hora, de madrugada ou à noite, e que jamais tiveram o mínimo indício de que alguma coisa estranha ali se passasse. Uma das vítimas, ao fazer o reconhecimento, indicou como local das "orgias" a sala onde desde sempre estiveram os berços dos bebés que ali ficavam durante o dia. Outra das vítimas indicou essa mesma sala das orgias como sendo no patamar a meio das escadas de acesso ao segundo andar. Nenhum vizinho disse ter visto os tais grandes carros em que , segundo as vítimas, os arguidos lá iam.

O tribunal absolveu-a primeiro. Não se sabe o que fará agora. E a emigrante que, depois de muitos anos fora do País, pensava que iria ter algum tempo de calma já não é a mesma.

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