Este dentista é bom rapaz e um pouco tímido até

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Miguel Stanley. Filho de pai português e mãe inglesa, decidiu tirar o curso de Medicina Dentária quase por acaso e é hoje um dos mais populares dentistas do País. Aos 34 anos, garante saber o que quer. E não tem pressa de casar, embora não lhe faltem fãs, que gostaram de o ver na TVI

É um dos dentistas da nova geração portuguesa, sem dúvida o mais famoso. E a televisão deu-lhe uma boa ajuda. Gosta do que faz e, ao que parece, sabe também gerir bem os seus negócios. Miguel Stanley diz ser um homem "simples" e o que faz "comes from the heart [vem do coração]". As expressões inglesas surgem-lhe com naturalidade: até aos 14 anos, esta foi a única língua que dominou.

Qual o objectivo de vida para um homem que vem de boas famílias, é rico, bonito, e tem um negócio que lhe dá imenso dinheiro? "Rico não sei se sou. Mas acho que metade do mundo anda perdido", responde o popular dentista, de 34 anos. Miguel Stanley aconselha os portugueses a ler alguma literatura do século XIX e do início do século XX, para perceberem que a vida não precisa de ser vivida a correr.

Para este homem que se preocupa com a saúde da boca dos seus compatriotas e que faz disso uma "missão", como confessa ao DN gente, o ser humano de hoje tem "pressa em contrair matrimónio, em ter filhos, em ter dívidas, em viver depressa de mais". Ele não. Quer acima de tudo viver com calma. E que mais? Seguem mais confissões: "Quero ser como o meu pai, que já fez três ou quatro coisas na vida e fê-las todas bem feitas, e hoje em dia tem uma quinta no Alentejo, onde gosta de ler." Fala com uma sabedoria antiga: "A vida é um ciclo muito engraçado, mas é preciso trabalhar, ter honra e muito amor." Não acredita em qualquer meio para atingir os fins.

O percurso académico de Miguel Stanley foi quase um acaso. Este jovem de 34 anos estava destinado a ser médico de clínica geral quando um atraso na entrega da sua candidatura fê-lo entrar em Medicina Dentária. É um dentista frustrado? "Não. Quando somos jovens, com 14 anos, somos obrigados a escolher uma área na escola. Avancei com saúde - apesar de os testes psicotécnicos dizerem que tinha jeito para quase tudo -, sempre quis ser médico porque queria ajudar. Mas também achei que poderia ser advogado, na área do direito comercial, não sei muito bem porquê."

Foi mesmo uma questão de sorte. Stanley decidiu-se pela área da medicina atirando uma moeda ao ar - de um lado letras (Direito), do outro saúde (Medicina). Ganhou a saúde.

Pode dizer-se que o destino tem sido generoso com ele. Mas a televisão contribuiu para a fama de que goza: deu muito nas vistas nas duas temporadas do programa Doutor, Preciso de Ajuda, exibido pela TVI - na primeira ao lado de Júlia Pinheiro, na segunda com Raquel Matos Cruz. Autor do programa que veio a ser emitido pela estação de Queluz de Baixo, durante duas temporadas, salienta que fez o seu "trabalho de casa" ao ver vários programas estrangeiros do género, de forma a não "cometer erros", no formato que queria ver feito, em Portugal. "Estou satisfeito com o resultado", conclui.

Mas ser mediático não é o objectivo deste homem que se mostra convicto de que nada se consegue sem esforço: "Trabalho arduamente para não ter problemas. Pago os meus impostos, e não são poucos. E quero principalmente cumprir os objectivos que delineei ir fazendo na minha vida." Sem pressas, é claro!

"Muitas das minhas decisões são feitas ao acaso. Feeling [sensação]! Deus. Não sei." Depois de ter decidido ir para Medicina, tentou inscrever-se, mas um atraso na entrega dos papéis fê-lo rumar a Medicina Dentária, sempre a pensar ir para Medicina ao fim de um ano de curso. "Nunca seria um desvio."

Outra das vantagens que descobriu na Medicina Dentária foi o facto de não ter de lidar com a morte. Fez o curso numa escola privada, na Costa de Caparica, paga pelo pai, mas o acordo era que a mesada só existiria até ao dia da licenciatura. O que realmente aconteceu. Paralelamente, trabalhou como modelo na Agência Elite, que deixou quando começou a sua vida de dentista, pois tinha de "se fazer pela vida".

Ele faz tudo por amor

É um homem de sorriso fácil que nos confidenciou ser um romântico e que faz "tudo por amor". Preza acima de tudo os valores familiares. Tem uma admiração pelos irmãos e tudo o que faz, fá-lo por "amor", expressão que não tem vergonha de repetir sem conta. Esta é a palavra-chave na sua existência. "Vivo mesmo de amor", volta a acentuar. "Não é estilo ou pose? Miguel Stanley afirma sem hesitação: "Não. É assim que eu sou. What you see is what you get [o que é está à vista]!"

A boca dos portugueses

Terminou o curso em Setembro de 1998, porque faz sempre questão de "terminar o que começa". Iniciou então a sua "missão", trabalhando na área que acabou por determinar o sucesso e o reconhecimento que tem hoje, em Portugal e mesmo fora do País. É hoje dono da Clínica Dentária da Lapa - fundada há 35 anos e que pertencia a Eurico de Freitas, a quem Miguel comprou o espaço e "herdou" a respectiva carteira de clientes.

Em 1999, o seu irmão Manuel (o mais velho) acreditou nele e emprestou-lhe o dinheiro necessário para avançar no seu sonho. Comprou então a clínica, fez obras e trabalhou simultaneamente entre o Algarve e Lisboa para ganhar dinheiro, até se estabelecer definitivamente na Lapa. Para trás tinham ficado a infância e a adolescência descontraídas, na África do Sul, onde os pais (ele português, ela inglesa) se encontravam radicados.

"Na minha clínica, um recém-licenciado não toca numa boca de um paciente antes de um estágio de oito meses", garante Miguel Stanley, que se orgulha de dizer que só trabalha com os melhores alunos que se licenciam na Faculdade de Medicina Dentária. E sublinha que é impossível fazer boa medicina dentária sem primeiro fazer um bom estágio.

Agora a sua grande batalha é tentar que os portugueses comecem a pensar que a boca é um bem essencial e não um mal necessário que deve ser tratado só quando dá problemas.

Stanley acha que os dentistas não devem ceder ao que os clientes querem.

"Não cabe na cabeça de alguém que um cirurgião só opere meio cérebro, porque não se tem dinheiro ou porque não tem tempo. Na saúde dentária, a postura tem de ser idêntica", enfatiza. "Vivemos num país onde os portugueses têm de investir mais na saúde do que em carros. Este é o paradigma do povo português - que quer soluções - mas as soluções custam dinheiro", afirma.

E é verdade que tem mau feitio, como alguns garantem? A resposta vem de novo num sorriso: "É verdade que tenho mau feitio, mas com a idade tenho melhorado muito."|

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