Nas ruas de Lisboa, nota-se que os portugueses não andam imbuídos no espírito de Natal. Faltam sorrisos nos rostos das pessoas, que até andam mais irritadas e stressadas do que é costume. Tudo por causa das prendas que ainda falta comprar. Até os pais natais se queixam que toda a gente passa por eles a correr e não lhes liga nenhuma. E a bondade também não aumenta os pobres continuam a receber tão pouco como no resto do ano. No fundo, só se percebe que é Natal pelas iluminações nas ruas..A confusão é maior do que nos anteriores 11 meses. São os automóveis engarrafados e as multidões que se acotovelam nas ruas e nas lojas. Tudo na correria das compras, pois o dia esperado aproxima-se a passos largos e ainda falta riscar muitos presentes da grande lista. Soma-se a preocupação de o dinheiro não esticar nem chegar para tudo. E as coisas são sempre mais caras do que se esperava....Assim, em vez de as pessoas viverem uma quadra que, segundo a história recente, deveria ser de paz de espírito, sossego, calma e descontracção - quase uma aula de ioga -, enfrentam momentos infernais a ver montras de lojas, comparar preços e ficar na dúvida se ele ou ela gostará mesmo daquilo..«As pessoas estão adormecidas e distraídas em relação ao espírito de Natal, porque andam muito preocupadas com as compras e a falta de dinheiro», diz ao DN a promotora do projecto que reuniu, na Praça do Comércio, o presépio e as tendas de oração e da alegria. Sofia Guedes acrescenta que esta iniciativa pretende mesmo «acordar as pessoas para cada uma encontrar a sua paz interior». Sobre estas tendas, que funcionaram até quarta-feira, considera que «o facto de passarem aqui pessoas, que param para ouvir e reflectir sobre Jesus, é a prova que sentem falta deste espaço e de tempo para pensar»..A indiferença pelo espírito de Natal também atinge os pais natais. Um deles, acompanhado de um palhaço que enche balões nas estações de metro, confessou ao DN que «as pessoas andam sem tempo. As crianças querem vir ter connosco, mas os pais puxam-nas e dizem estar com muita pressa»..Em crescendo está a desconfiança. É tanta, que até há criancinhas com medo de se aproximar do Pai Natal. E alguns adultos não escondem o receio de sentar os seus filhos ou netos ao colo de um desconhecido. «Ouve-se por aí tantas histórias tristes de homens que fazem coisas às crianças, que mais vale não arriscar», disse uma avó, deitando um olhar desconfiado ao barbudo vestido de Pai Natal..O espírito de Natal anda arredado dos pobres, que percorrem todas as carruagens do metro de mão estendida e quase ninguém abre a carteira para lhes dar alguns trocos. Pudera, a classe média foi muito afectada pela crise económica em que mergulhou o País. E as classes altas não andam de metro.