O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, admitiu ontem que as eleições presidenciais decorram um ano depois das legislativas, previstas para 2006, caso a Assembleia decida manter a actual Constituição até à eleição dos deputados. «A ideia de se realizar a eleição presidencial um ano depois das eleições legislativas, sendo, no entanto, a Constituição aprovada depois das legislativas, mas antes das presidenciais, pode ser uma saída», afirmou Eduardo dos Santos durante um comício no Namibe, nas comemorações do 29.º aniversário da independência de Angola..Segundo o discurso de Eduardo dos Santos reportado pela agência Lusa, a realização das eleições legislativas com o actual texto constitucional «é uma opção». .Mas depois de referir que «o que interessa é que a Assembleia Nacional aprove tão depressa quanto possível o pacote de leis necessárias para preparar e realizar essas eleições», José Eduardo dos Santos fez seguir a advertência de que tal opção por eleições com o actual texto constitucional, implicará que «o período de transição iniciado com a aplicação dos Acordos de Bicesse e o Protocolo de Lusaca não vai terminar em 2006 como foi previsto». .Foi nesse quadro que Eduardo dos Santos, sem indicar datas precisas, deixou agora sugerida a eleição presidencial um ano depois das legislativas, sendo a nova Constituição de Angola aprovada entre os dois actos eleitorais. .«É necessário, no entanto, que mantenhamos a estabilidade política actual e que continuemos a procurar soluções consensuais para uma transição tranquila e exemplar, no espírito da reconciliação e concórdia nacional», foi outros dos considerandos de Eduardo dos Santos, deixando no ar o enigmático apelo a que sejam criadas «as melhores condições possíveis para que o povo angolano escolha livremente, sem qualquer interferência externa, os seus dirigentes»..Outro dos temas escolhidos pelo líder angolano, há 29 no poder, foi o dos direitos humanos..«A democracia e os direitos humanos, embora sendo essenciais, não enchem a barriga de ninguém. São um alimento espiritual, moral e político que apenas pode criar novas condições de trabalho», disse. E a seguir discorreu: «Sem perder de vista a necessidade de criar condições para a realização das eleições, o Governo não deixará de tratar das questões essenciais que atingem a vida dos cidadãos, para mais rapidamente melhorar a vida de cada um». .O discurso foi proferido perante 20 mil pessoas que se concentraram num dos principais largos da cidade do Namibe, no Sul de Angola. Recordando a evolução que, na sua perspectiva, o país conheceu desde a independência, proclamada a 11 de Novembro de 1975, Eduardo dos Santos lembrou-se dos tempos em que a maior parte dos angolanos não vivia nas zonas urbanas, em que a esmagadora maioria da população era analfabeta e quando, segundo disse, os quadros estrangeiros «abandonaram os angolanos à sua sorte». .«Quem havia de resolver os complexos problemas nacionais se não havia quadros nem capacidade técnica instalada? Os dirigentes de então fizeram o que puderam, muitas vezes por intuição», perguntou e respondeu Eduardo dos Santos. .Ainda no discurso, o Presidente angolano voltou-se depois para os «três ou quatro grupos empresariais que dominam o comércio grossista e manipulam os preços, complicando a vida dos angolanos». .«Peço ponderação a esses empresários, para que cooperem com o Governo e contribuam para a estabilidade dos preços, ajudando a atenuar o sofrimento dos angolanos», advertiu apelando depois aos empresários angolanos para que seja possível diminuir as importações. Eduardo dos Santos anunciou também uma reavaliação da política de privatizações no sector produtivo, considerando que «não vale a pena continuar a ceder empresas a quem não tem vocação para os negócios».