Apreendidos cinco mil dentríficos

De distintivo em punho, os inspectores Gonçalves e Pereira percorrem as lojas de baixo custo na zona do Lumiar, em Lisboa: "Onde é a zona de cosméticos? Onde têm as pastas de dentes?" É fácil encontrar os produtos a apreender: as falsas pastas Colgate são fabricadas na África do Sul, não têm instruções em português (ou se têm, as letras são tão pequenas que os inspectores as consideram ilegíveis) e têm um curioso prazo de validade: 34/09/2008. Perplexos, os lojistas vêem o material retirado das prateleiras.

Mais de cinco mil embalagens de falsas pastas de dentes Colgate Maximum Cavity Protection foram apreendidas ontem, em 43 localidades em todo o país, por 50 brigadas da ASAE - Autoridade de Segurança Alimentar e Económica.

Foi na quinta-feira que o Ministério do Consumo espanhol alertou para o aparecimento no mercado de pastas de dentes Colgate que continham dietilenglicol, uma substância ilegal e tóxica quando ingerida em grandes quantidades. Na sexta-feira, o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) emitiu um alerta para a recolha das pastas made in South Africa. Mas só ontem, quando a Comissão Europeia activou o Sistema Rápido Europeu para Produtos não Alimentares (RAPEX) é que a ASAE decidiu actuar.

Depressa os inspectores perceberam que o produto a apreender se encontrava à venda em lojas de baixo custo, sobretudo nas lojas chinesas, e foi nessas que concentrou a sua atenção. "Enquanto a investigação não terminar, não sabemos se estas pastas têm material tóxico, mas só o facto de não terem rótulo em português é motivo para apreensão", explica a inspectora Gonçalves. Preenchida a papelada, as pastas apreendidas são contadas e colocadas num saco selado que fica, depois, no armazém da loja. "Não pode mexer aqui, entendeu?" A inspecção vai continuar durante os próximos dias.

Empresa Colgate garante que não importa produtos da África do Sul para Portugal

A empresa Colgate - Palmolive, Unipessoal Lda, emitiu ontem um comunicado garantindo que os dentífricos "destinados ao mercado português são fabricados em fábricas Colgate localizadas na União Europeia e no Brasil" e que a venda em Portugal de pastas oriundas da África do Sul "não se encontra aprovada". Apesar de o Infarmed ter assegurado que, em condições normais de utilização, não há perigo para os consumidores, a ASAE avisa que é preferível não utilizar este artigo até terminarem as investigações.

Neste momento, as inspecções decorrem em toda a União Europeia. Na Itália foram ontem apreendidas 20 mil embalagens de pastas Colgate falsificadas.