A lenta e instável recuperação económica

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No início do século XX, a economia argentina ocupava o sétimo lugar no ranking mundial. Um lugar que ainda hoje não conseguiu recuperar, graças a profundas crises económicas que já se sentiam antes da ditadura militar (1976-1983) e que os anos de repressão apenas agravaram. Hoje, o país está em claro crescimento, mas ainda longe de atingir os valores de há um século.

Se, em Março de 1976, a Argentina estava em recessão, após a ditadura militar o país encontrava-se numa depressão. O ministro da Economia do general Jorge Videla, José Alfredo Martínez de Hoz, optou pela desvalorização da moeda. A estratégia era "não afectar os níveis de emprego porque o desemprego poderia abrir caminho para a agitação" popular, escreve Roberto Cortés Conde, autor de A Economia Política da Argentina no século XX. As medidas resultaram a curto prazo, mas pioraram a situação a longo prazo.

Com o regresso da democracia, recuperar a economia foi sempre uma das prioridades. O Presidente Raúl Alfonsin não conseguiu alterar a situação: em 1988, a taxa de inflação era de 343% e, em 1989, superior a 3000%. O sucessor, Carlos Menem, iniciou as privatizações e estabeleceu a lei da convertibilidade (ou seja, um peso argentino teria o mesmo valor de um dólar). O negativo de uma moeda artificialmente forte foi o aumento da dívida externa para quase 150 mil milhões de dólares.

Acusações de corrupção e o começo de uma nova recessão, em 1998, levaram ao afastamento de Menem. O Governo de Fernando de la Rúa acabou por tomar medidas muito impopulares, como o "corralito financeiro", isto é, o arresto dos bens privados depositados nos bancos. Em 2001, com o desemprego superior a 20%, de la Rúa interrompeu o pagamento das dívidas externas, acabando por se demitir.

Sucessivos Presidentes interinos deram lugar a Eduardo Duhalde, que desvalorizou o peso, acabando com a convertibilidade. Néstor Kirchner, eleito em 2003, herda uma dívida externa de 178 mil milhões de dólares e tenta proceder à sua negociação. O Presidente efectua também uma reestruturação da dívida com os privados, pedindo aos credores que troquem os seus títulos por outros de valor mais baixo.

Em meados de 2005, a crise económica estava ultrapassada e, em Dezembro, Kirchner anunciava o cancelamento da dívida de quase 9000 milhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional, procedendo ao seu pagamento de uma só vez, uma decisão vista como histórica. SS

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